A vidente Maria Alice é angolana, reside em Tianguá (333,5 Km de Fortaleza) e afirma conduzir os fiéis até onde a Virgem Maria lhe indica que irá se manifestar

Biografia

A vidente angolana Maria Alice se mudou da terra natal na época da guerra civil (1975-2002), migrando, inicialmente, para Portugal, junto com o marido. Ali, ela demarca, foi o início de uma missão evangelizadora, a pedido de Nossa Senhora, que continua no Brasil. Depois de algum tempo em Maceió, em 2005, ela foi enviada a Tianguá (a 333,5 quilômetros de Fortaleza), onde ainda reside. A vidente explica que Nossa Senhora lhe conduz pelas regiões que deseja, a exemplo da localidade de Estivado (a 18 quilômetros de Ipu, onde peregrinações ocorreram nos anos 90 e também até alguns anos atrás), manifestando-se em aparições e curas. "Logo nas primeiras vezes, Nossa Senhora se manifesta, no céu, dá uns grandes sinais. A partir dali, o sol transforma-se, começa a girar, coisas quase como em Fátima. Ali está a ligação com Fátima (Portugal, cidade de peregrinação, para os católicos, a partir das aparições da Virgem Maria, em 1917)", relata Maria Alice. Sua rotina é de orações e de intercessões, mediando as necessidades entre terra e céu.

A tristeza do céu

A vidente angolana Maria Alice se tornou mensageira de Nossa Senhora, mãe de Jesus - para os católicos, e intercede entre terra e céu. Uma longa missão que, há mais de uma década, ela cumpre no interior do Estado. Nesta conversa, realizada na sala de orações da vidente, Maria Alice conta sobre os caminhos do acreditar

Ana Mary C. Cavalcante (textos) anamary@opovo.com.br
Fábio Lima (fotos) fotografia@opovo.com.br

A maior parte da vida da angolana Maria Alice, 86 anos, professora que fugiu da guerra civil em seu país, na década de 1970, no último navio que fez a travessia a Portugal, foi caminhar entre terra e céu. "Depois viemos (ela e o marido, funcionário superior aposentado, já falecido, além de um sobrinho que ainda a acompanha) para o Brasil, por um chamado: Nossa Senhora (mãe de Jesus, na religião católica) mandou vir", segue "em missão", passando pela Espanha e por Alagoas. "Nossa Senhora disse que eu devia vir para esta terra, que eu nunca tinha ouvido falar: Tianguá (a 333,5 quilômetros de Fortaleza)", pousa.

Desde setembro de 2005, a vidente se estabeleceu no Ceará, por uma fé que ela sempre compreendeu ser necessária vida afora: é preciso confiar no mistério. "Minha mãe foi uma mulher de muita fé e nunca deixou apagar a luz de Nossa Senhora", reflete. Para a vidente, é urgente iluminar os escuros do mundo. "Que todos se amem e que temos que converter os pecadores. É a grande mensagem dela, como em Fátima (Portugal, onde os católicos acreditam que Nossa Senhora apareceu a três pastores, em 1917, época da I Guerra Mundial)", aproxima.

"E eu vim, confiei totalmente em Nossa Senhora", peregrina Maria Alice. "Ela dizia que via (nos lugares que apontava) grandes coisas para serem modificadas. E, quando ela dizia isso, já dizia tudo", entrega-se, "desde que ela diga o que é preciso fazer. Porque não é nada de minha iniciativa. Não faço perguntas porque entendo que não sou ninguém para perguntar à mãe de Deus o que é que ela quer".

Em aparições e conversas, explica a vidente, Nossa Senhora lhe diz sobre as preocupações e as tristezas do céu. "Agora, por exemplo, os incêndios na Amazônia. Muito triste. Porque não é só o problema dos incêndios, é aquilo que está a causar no povo, a revolta, a falta de unção", interpreta. A violência contra a mulher, exacerbada no feminicídio, também faz Nossa Senhora chorar, afirma a vidente. "O mundo está em risco, não termos muito tempo para respirar fundo. Não é acabar o mundo, mas acabar as coisas que estão mal", transmite.

Os pedidos de conversão são ouvidos nos cantos do mundo, aponta Maria Alice. Em meados dos anos 90, ela informa, sete crianças evangélicas da localidade de Estivado (incrustrada a cerca de 18 quilômetros de Ipu, na Serra da Ibiapaba) viram a mãe de Deus. Assustados com as romarias e as curiosidades que se fizeram em torno dos filhos, os pais colocaram as crianças em silêncio, reconstitui Maria Alice. Na primeira década dos anos 2000, conta, as aparições retornaram no Estivado, conduzidas pela vidente.

Mesmo acompanhada por Monsenhor Tibúrcio (falecido em 2012, aos 94 anos), "um santo cearense", diz Maria Alice, a estrada de terra e curvas até o Estivado foi um caminho de desconfianças, risos, descrenças. Difícil olhar para o sol e ainda perceber o divino. "Nossa Senhora se manifesta: o sol transforma-se, começa a girar, coisas quase como em Fátima", ela descreve. A própria Igreja sempre vê tais manifestações com cautela. E a distância até o céu é longa, para cada ser humano.

"Sempre que ela vem, deixa grandes sinais: no céu, nas pessoas que estão doentes, nas curas que faz. Tudo isso é muito grande. E foram anos de muita luta, para que as pessoas se convertessem", insiste Maria Alice sobre um caminhar contrário à escuridão (que vê como inferno). Somos humanos, ela preserva, e é preciso ter "uma alma que Nossa Senhora e Jesus nos possam vir acolher na hora da nossa partida. Há muitos filhos que partem sem saber para aonde vão".

Maria Alice sublinha que o mais difícil, na missão que carrega, "tem sido a ingratidão. Descrença, eu tenho encontrado até dos próprios sacerdotes, mas a ingratidão não é para mim, não preciso que ninguém me venha agradecer. A pessoa recebe o maior milagre da sua vida e, depois, onde ela está? Vem agradecer? Não é para mim, é para Nossa Senhora... Não sou santa. Sou tão pecadora quanto qualquer pessoa. Santa é Nossa Senhora. E eu sou mensageira dela, mais nada. Eu preciso me confessar sempre".

Aos 86 anos, a rotina da vidente é neste limiar, "rezando, rezando, rezando" o terço e ouvindo as notícias do mundo. No azul da sala de orações, entre imagens de Jesus, Padre Cícero e muitos santos, a Virgem de Fátima e do Estivado lhe faz companhia: "Fala comigo. É linda, de uma beleza que não tem comparação... A beleza dela, não posso descrever. Não só pela beleza, mas pela doçura, pela bondade... Ela é toda mansidão", sorri. Tantas vezes, aquela imagem chora, contrapõe a vidente. "E temos que tirar muitas lágrimas dela. Quando ela está descontente com as coisas que sabem que vão acontecer, coisas muito graves."

Curiosidades

ENSINAMENO. Sobre os mistérios da fé, a vidente divisa: "A fé é acreditar. E, às vezes, não é só esperar para ver, como São Tomé. A fé é acreditarmos que há um ser superior que nos guia. O que eu gostaria de dizer ao povo: não vale a pena pensarmos que temos tudo cá embaixo. Não luto por coisas do mundo porque sei que nossa vida se limita, unicamente, ao céu. É só isso, a fé, acreditar."

MISERICÓRDIA. "É na dor que a gente se converte. Na grande dor" D, une Maria Alice, que também visita hospitais, levando algum entendimento e conforto. "E é quando vejo a grande misericórdia de Deus", acredita."

INTERCESSÃO. Ao finalizar a entrevista, O POVO pediu à vidente uma prece intercessora pelo mundo e pelo Brasil. Serena, ela concluiu: "Uma oração pedindo a Nossa Senhora que ninguém recorre a ela ou a seu Filho sem ser atendido, e todos aqueles que recorrerem com fé, a Nossa Senhora e a Jesus, são atendidos. Porque ela é mãe, ela olha para todos".

APARIÇÃO. A saúde da vidente já não favorece que ela conduza as peregrinações ao Estivado, mas ela fala que a Virgem Maria permanece na região. No local, há agora imagens de santos e bancos que se deterioram. O POVO tentou localizar uma jovem que, contam, tira fotografias da santa por lá. Mas os moradores despistaram, dizendo que "ela é muito tímida, não fala". Nossa Senhora tem aparecido na zona rural de Viçosa do Ceará, informa Maria Alice, no dia 13 de cada mês.

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