Em Morada Nova, Mariinha recebe visitas no santuário, para rezas de cura, e é onde conversa com santos e anjos

Biografia

Rezadeira que afirma se comunicar diretamente com anjos, santos e outros personagens sacralizados - até Jesus Cristo, segundo ela. Tem 83 anos. É uma personagem bastante conhecida no município de Morada Nova. Reside na localidade Pau Branco, onde distribui rezas e curas. Ao lado de sua casa, mantém um santuário, onde atende quem busca um auxílio para dores e aflições. As visões começaram a partir de 2000, onde afirma ter recebido mensagens de Nossa Senhora da Fonte Inesgotável de Todos os Bens. Na casa, uma torneira pinga água, que é distribuída aos visitantes. "É água benta", afirma dona Mariinha. Também construiu a Capelinha do Deserto de Jesus, onde recebe pessoas para orações todas as primeiras sextas-feiras de cada mês.

O dom de dialogar com os anjos

Maria de Jesus ouve e vê anjos, santos, Jesus, Nossa Senhora e outros seres celestiais. Descreve que eles são os mensageiros de seu dom de cura, exercitado no santuário e na Capela do Deserto de Jesus, que mantém em Morada Nova

Cláudio Ribeiro (texto) claudioribeiro@opovo.com.br
Júlio Caesar (fotos) juliocaesar@opovo.com.br

No plano terreno, dona Mariinha oferece o dom de curar. Em sua casa, que agora virou um santuário, na localidade Pau Branco, em Morada Nova, deixa as portas abertas. É muito conhecida perto e longe dali. Jovens, adultos, idosos, crianças, todos pedem a ajuda de sua reza. Reclamam de dores, de doenças que murcham o corpo, das que afligem a alma. Contam sobre tristezas, depressões, surtos. Também chegam os que estão com quebrantos, uma febre, o dente inflamado ou tensões musculares. Mas rogam até o socorro de alguma cabeça de gado perdida ou para que interceda até controlando um fogaréu no meio do mato. O poder dela tem sido acionado e a fé sustenta os resultados.

Porém, Mariinha detém um outro privilégio sublime, de estar em contato com uma dimensão especial, divina, fantástica e surpreendente. Ela diz se comunicar diretamente com personagens celestiais, sagrados, com quem interage desde que tinha 55 anos. Hoje está com 83. "Eu consigo ver e ouvir Jesus, Nossa Senhora, os anjos e todos os santos do céu", anuncia. Descreve diálogos, visões, mensagens, recomendações e a presença deles entre nós, mas só percebidos por ela. São eles que ela aponta como os mensageiros de seu dom. "Fui ungida por Jesus para essa missão. Por isso meu tempo está sempre disponível", reforça, em gesto de humildade.

Quando tinha oito meses de vida, acometida de uma febre muito forte, a menina Maria de Jesus Vieira Silva revela ter sido levada pela mãe, dona Zefinha, para receber orações de um curador. E o homem vislumbrou: "Dona Zefinha, essa sua filha nasceu com um dom. A senhora vai viver muito e ainda vai participar do que ela vai ver e ouvir e a senhora vai ficar muito feliz". O rezador falou de uma luz divinal que chegaria à criança, numa determinada idade, e é o que Mariinha diz que acontece consigo diariamente.

"Vejo essa luz sempre nas minhas orações. Mas Jesus marcou uma hora pra eu rezar, quatro da manhã" (senta-se diariamente em sua cama, sempre no mesmo horário, para o momento de preces). E continua: "Os mensageiros vêm, os santos, recebo flores dos anjos. Às vezes vêm duas meninas com flores", testemunha. "Na primeira vez eu vi uma luz e tinha muito medo dessa luz. Mas eu rezava e a luz se aproximava. Até que me acostumei. Essa luz se aproximava quando eu ia me deitar. Um dia eu tava rezando e desceu uma luz muito forte e ficou perto dos meus santinhos. Todo mundo tava dormindo. A luz clareava os santinhos, até que fiquei sem medo".

Mariinha tem uma prosa que não se pode desviar a atenção. Seu testemunho tem uma desconexão. Cada frase longa mostra muitos detalhes de sua fábula encantada. Sua transcendência sempre cita anjos, santos e salvadores. É com as mesmas flores, artificiais ou verdadeiras, que ela faz a reza de cura. Para a jovem com dor de dente, ela molhou as pétalas com água benta e passou no rosto, enquanto sussurrava orações. É como ataca as agonias e padecimentos. A fonte dessa água benta está canalizada numa torneira, que pinga num tanque na sala do santuário. Nunca falta, mesmo na seca. As paredes são cheias de textos e desenhos e artes, feitas por ela, colhidas em mensagens da outra dimensão. Ela cria tapetes costurando as flores em panos. Pendura como quadros. Ensina que cada flor daquelas é uma bênção.

Mariinha diz ter sido contemplada com a visão de Nossa Senhora da Conceição da Fonte Inesgotável de Todos os Bens. Batizou assim a aparição, em 2000. No mesmo ano, recebeu um recado do espírito do cantor Leandro. O sertanejo morreu em junho de 1998, acometido de câncer de pulmão. A família dele soube e dona Mariinha chegou a viajar, em 2003, com despesas pagas, até Goiânia. Depois, os contatos esfriaram. O cantor é mencionado por ela como um dos mensageiros. A imagem da Nossa Senhora, ao lado de uma de Santa Luzia, está numa gruta de pedras construída no centro da sala, onde a água consagrada jorra o tempo todo. É o altar.

Toda primeira sexta-feira do mês, o lugar é tomado pelos que frequentam a noite do terço na Capela do Deserto de Jesus. É o outro ambiente de orações de dona Mariinha, erguido ao lado do santuário. A obra viabilizou-se a partir de doações. "A capelinha é um tesouro que veio do céu. Foi Deus que escolheu esse lugar, Ele que quis aqui", pontua. Ela admite que muitos não acreditam em seu poder. "A fé é um segredo que ninguém descobre. Coração é terra que ninguém anda. Mas eu confirmo pra Jesus e Nossa Senhora que essa fé se esbanja no meu coração, porque eu sinto e vejo".

Os vizinhos reconhecem as virtudes e não cobram explicações. "Eu tenho muita fé nessas coisas da Mariinha. Eu sinto que ela tem uma energia. Ela conversa sobre tudo, de repente as coisas acontecem", expõe seu José Arlindo Girão, 88 anos. Ele conta que quando a conheceu "ela sofria muito, o marido (Raimundo Sebastião, falecido em 1993) não acreditava". Dona Mariinha teve nove filhos. Clênia Vieira, de 39 anos, é a única que mora com ela - os demais se dividem entre Fortaleza (4), Morada Nova (mais 3) e São Paulo (1). "Ela sempre foi muito religiosa, mas um dia disse ter sentido um comportamento diferente e teve a necessidade de levar a palavra", relembra a filha, que reconhece os feitos da mãe.

No dia da visita do O POVO, pelo menos seis pessoas estiveram no santuário. Na manhã seguinte, em nova ida da equipe ao local, mais quatro pessoas. Ninguém quis dar entrevista, mas reconheceram os dons de dona Mariinha. "Sabe aquela pergunta que você me fez ontem, se havia algum santo ou anjo aqui entre nós, enquanto conversamos, os mensageiros vieram dar a resposta. Pois estavam São Francisco, Santo Antônio e João Batista", compartilhou a senhorinha, sobre seus amigos.

Curiosidades

ÁGUA BENTA. Como rezadeira, Mariinha sempre presenteia os visitantes com a água benta numa garrafinha. Não cobra nada de ninguém, mas muitos se dispõem a ajudar. Um conhecido chegou a recomendar que ela pusesse um cofre na porta do santuário ou da capela. Ela rejeitou a ideia, mas o amigo insistiu e a persuadiu a criar o ofertório.

O MARIDO. Dona Mariinha admite que seu marido, Raimundo Sebastião não incentivava nada das visões que ela passou a ter. "Essas coisas ele não acreditava. Nas minhas orações, o mensageiro sempre chegava e dizia que eu era pessoa importante para o reino de Deus. Depois que ele morreu, comecei a ver as revelações".

GRAÇA. Eliene Sampaio tem 36 anos, mora na localidade Curral Velho, em Morada Nova. Não é longe do santuário de Mariinha. "Eu acredito nas curas. Quando estou sentindo alguma coisa, vou lá e fico boa. Creio que é fé. Meu marido passou muito tempo desempregado. Nas sextas, a gente vai lá, reza. Apareceu um emprego de corte de palha, ele tá trabalhando".

AFIRMAÇÃO. Padres que chegaram a celebrar no local não vão mais, lamenta dona Mariinha. "Eu ouvi de um padre que aqui tem uma verdade. Mas eles não têm vindo". Ela conta que um rapaz foi perguntar ao padre sobre seus dons de curar e se comunicar com o divino. "Se a Mariinha disser que viu, ela viu. Se disser que ouviu, ela ouviu. É um dom que ela tem", relembra.

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