CADERNO 2


Caderno 1


BEABÁ DO NEGÓCIO

POR PAULA LIMA


EDITORA-EXECUTIVA


Se você é um empreendedor que fatura ao ano até R$ 360 mil você é um dos brasileiros que pode impulsionar o seu negócio com o microcrédito. E, para crescer, antes de mais nada, é preciso ter consciência do seu negócio. Entender como fazer o planejamento financeiro e desmistificar de uma vez por todas a contabilidade.

Na segunda edição do Dei Valor!, empreendedores contam como aplicam o microcrédito e se organizam para pagar as parcelas. Além de revelar a diferença que o empréstimo fez nos rumos de suas vidas familiares e da comunidade.

Vendendo espetinhos ou comandando uma gráfica, as histórias de sucesso que contamos a seguir são inspiração para quem está começando ou mesmo para quem é pequeno e está com vontade de crescer. Para incentivar, traduzimos o beabá financeiro para todo microempreendedor tomar as rédeas do seu negócio e prosperar.


IMPRESSÃO DE SONHOS

AMANDA ARAÚJO


amandaaraujo@opovo.com.br


Bolsas, camisas, copos, agendas e canetas personalizadas. Na FS Soluções Gráficas, o cliente encontra diversas opções para brindes e lembrancinhas. "A gente vende muita bolsa, copo de aniversário, camisa", conta Andrelina Marajó, 38, quando questionada sobre os produtos mais vendidos na confecção localizada no Barroso 1, no térreo da casa dela. A clientela é de pessoas físicas e jurídicas, como buffets. "Por incrível que pareça, a maioria dos nossos clientes são de fora, de outros bairros, por causa da internet."

Andrelina, que atuou como costureira durante 16 anos, decidiu sair da confecção que trabalhava e investir no próprio negócio. As filhas exigiam atenção e trabalhar de casa pareceu até mais rentável. Ela lembra do início da FS Soluções Gráficas em 2014: "primeiro, eu comecei a 'brincar' vendendo pela internet". De forma despretensiosa, a marca ganhou fama nas redes sociais, e Andrelina e o esposo, Fernando Silva, decidiram apostar todas as fichas na gráfica.

"Meu marido já trabalhava numa gráfica e também saiu do trabalho, entrou fazendo tanto a parte das artes [impressas] quanto a parte financeira", explica. Para alavancar as vendas e também melhorar a qualidade, os dois decidiram fazer cursos no Sebrae. Ele de administração, ela de corte e costura.

O casal terceirizava toda a produção até 2016, quando eles decidiram recorrer ao microcrédito. Compraram algumas máquinas e montam aos poucos a própria estrutura. "A gente é cliente do Crediamigo desde novembro de 2016, escolhemos pelos juros acessíveis. Renovamos o último empréstimo há um mês." Essa renovação, segundo ela, é necessária porque as máquinas a todo momento precisam ser modernizadas. "Sempre tem que estar inovando, a gente faz estoque", acrescenta. Nos meses de outubro e novembro, por exemplo, a quantidade de encomendas aumenta tanto que Andrelina e Fernando, que já contam com a ajuda das filhas, precisam contratar mais gente para auxiliá-los. "Trabalhamos para crescer, é um passo de cada vez. Pretendo terminar minha casa, estou conseguindo pagar a faculdade dela [filha mais velha] de Biomedicina", conta, orgulhosa.

EMPRÉSTIMO

Para quitar a dívida mensal de R$ 1.200, Andrelina tenta separar os custos da empresa dos custos de casa. "Digamos que separamos como se tivéssemos recebendo salário, como se fôssemos funcionários", ensina.

SERVIÇO

FS Soluções Gráficas Onde: Rua Seis, no 133 - Conjunto Residencial Nova Assunção ll - Barroso WhatsApp: (85) 8832.3025 Instagram: @fssolucoesgraficas



O QUE TODO MICROEMPREENDEDOR DEVE SABER

AMANDA ARAÚJO


amandaaraujo@opovo.com.br


Fazer contas, calcular o lucro e o capital de giro nem sempre são tarefas simples. Ao empreender, todo mundo quer saber quanto vai ganhar, em quanto tempo o negócio se paga e, principalmente, vai sobrar dinheiro? Entender as métricas financeiras é essencial para manter a saúde do seu negócio.

Mas o que, exatamente, é saúde financeira? "A saúde financeira de uma empresa está relacionada com a liquidez da empresa, ou seja, com a capacidade de pagar os seus compromissos em dia", explica o economista e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) Érico Veras Marques. (Amanda Araújo)

info animado


BATE-PRONTO



Alex Araújo, superitendente de Microfinança e Agricultura Familiar do Banco do Nordeste


O POVO - Quando pedir um empréstimo?

Alex Araújo - O empréstimo pode ser solicitado em qualquer fase da vida do negócio, mas o ideal é usar o crédito para apoiar momentos de expansão ou de sazonalidade que impliquem em queda das vendas. No caso do Crediamigo, todos os clientes recebem, além do crédito, orientação empresarial e conceitos de finanças pessoais que os ajudam a serem menos dependentes do empréstimo.

OP - Quais são os cuidados ao fazer um empréstimo?

Alex - O principal ponto de atenção é com o endividamento excessivo, ou seja, evitar que as obrigações com dívidas comprometam outros itens de consumo do empreendedor. Por isso, é muito importante saber como o orçamento do negócio se equilibra e conhecer com detalhes o fluxo mensal de despesas. Também é importante buscar compatibilizar o tipo de financiamento com o investimento que está sendo realizado, assim, necessidades de capital de giro podem ser financiadas com empréstimos de curto prazo, mas investimentos em equipamentos e reformas, que exigem mais tempo para maturar, devem ser feitos com financiamento de médio ou longo prazo. Por fim, deve-se fugir de dívidas muito caras, como o cheque especial ou cartão de crédito.

OP - De que forma um empréstimo impulsiona um negócio?

Alex - O capital financeiro é essencial para aquisição de estoques e realização de investimentos. Dessa forma, pode-se afirmar que facilita o acúmulo de capital e estimula a criação e expansão dos negócios, com impactos diretos na geração de trabalho e renda. Nossa experiência com o Crediamigo mostra que, além disso, o crédito ajuda no empoderamento e autonomia feminina, reduz o impacto de choques financeiros, melhora os investimentos familiares em saúde e educação e reduz a pobreza.

OP - Como se organizar para pagar um empréstimo?

Alex - O sucesso de uma vida financeira equilibrada começa com o gerenciamento eficiente das contas a pagar, por isso é muito importante possuir um orçamento que integre os gastos pessoais e as despesas da atividade produtiva, tais como pagamento a fornecedores, impostos e obrigações de funcionamento. Essas despesas devem ser compatíveis com o nível de renda da família, mantendo o orçamento equilibrado e, se possível, deixando alguma margem de recursos que possam ser poupados. O endividamento deve ser buscado apenas para financiar despesas que colaborem com o aumento da renda, como a compra de estoques antes de datas comemorativas ou para investimentos que reduzam despesas. Dessa forma, o fluxo adicional servirá para pagar os empréstimos, sem obrigar sacrifícios adicionais ao empreendedor.


AMPLIANDO O CARDÁPIOE O LUCRO

ANA BEATRIZ CALDAS


beatriz.caldas@opovo.com.br





Há mais de duas décadas, o comerciante João Soares Filho, de 49 anos, vende espetinhos. Desse período, quase 20 anos tiveram como base uma bicicleta ou um carrinho onde João vendia os lanches de maneira itinerante, em vários bairros da cidade, como ambulante. O dinheiro sempre foi a fonte de renda da família.

"Antes de começar a trabalhar com comida, eu era vigia, mas sempre pensei que, como não tinha formação, era melhor investir em algo meu e buscar uma renda que fosse além de um salário mínimo, possibilitando uma qualidade de vida melhor para minha esposa, minhas filhas e netas", conta.

Em 2016, finalmente conseguiu alugar um ponto de vendas na Aldeota, mas logo precisou desistir do espaço - na época, os poucos recursos dificultaram a fixação do negócio naquela área da Cidade. Após a decepção, João resolveu voltar para o Barroso, bairro onde morou a vida inteira, e tentar empreender perto de casa.

Pela segunda vez, aderiu ao Crediamigo, programa de microcrédito do Banco do Nordeste, - havia participado rapidamente do projeto na época da Aldeota - desta vez conseguiu um valor maior de crédito, que utilizou para pagar o aluguel e comprar matéria-prima para o Tesoura's Grill.

"Tive que começar do zero quando saí da Aldeota, não trouxe nada do espaço que tinha lá. Comprei tudo de mercadoria. Antes, eu só vendia espetinhos; hoje, consegui aumentar o cardápio e vendo baião de dois, bebidas. Meu rendimento mensal, que costumava ser de R$ 3 mil, hoje chega a R$ 8 ou R$ 9 mil", comemora Soares.

Com o aumento no faturamento, o microempreendedor diz que consegue pagar com menos esforço as parcelas mensais de R$ 377 do programa de microcrédito. Organizando seu próprio horário de trabalho, costuma abrir o espaço no fim da tarde "até quando tiver movimento". Mais cedo, ele fica com a família e começa a organizar a cozinha.

"Vou tirando um pouquinho do faturamento todo dia para, na hora de pagar o empréstimo, não ficar muito apertado, mas hoje está muito mais tranquilo pagar as parcelas, e eu consegui aumentar o meu crédito. Só trocaria o meu negócio por outro trabalho se fosse uma coisa muito boa, mas nem penso nisso, porque agora está tudo indo muito bem", celebra.

PARA PROVAR OS NOVOS "PRATINHOS" DO JOÃO:

Tesoura's Grill

Endereço: Av. Capitão Hugo Bezerra, 1626 - Barroso 1


Dica do empreendedor


"Muitas vezes, as pessoas que investem em um segmento e sentem dificuldade acabam saindo dele para um outro nicho. É necessário persistir e acreditar no seu negócio. Meu negócio só dá certo porque não desisti dele, ainda que tenha passado por altos e baixos."