DINHEIRO NO BOLSO
POR PAULA LIMA
EDITORA-EXECUTIVA
Falar de empréstimo bancário pode ser assustador para alguns empreendedores. Mas para boa parte da população de baixa renda é o pontapé inicial para o empreendedorismo ou o gatilho para impulsionar o próprio negócio.
Esse modelo de crédito tem sido um forte impulsionador da economia brasileira. Em 2019, o Governo Federal simplificou o processo e aumentou o limite de renda de R$ 120 mil para R$ 200 mil. Já o limite máximo para saldo devedor das operações contratadas pelo cliente subiu de R$ 40 mil para R$ 80 mil. E já tramita uma Medida Provisória que aumenta o limite de faturamento anual máximo de R$ 200 mil para R$ 360 mil para a obtenção de microcrédito.
Para esclarecer as principais dúvidas sobre o tema e mostrar como o cearense tem utilizado recursos do microcrédito de forma positiva e movimentando a economia, o POP Empregos&Carreiras; começa hoje a série especial Dei Valor!
Qual valor você tem dado para o dinheiro que tem no bolso, no banco ou no caixa?
É HORA DE ARRISCAR
PAULA LIMA
paulalima@opovo.com.br
Começar o próprio negócio é um desafio que 1.252.849 cearenses enfrentam, segundo dados de fevereiro de 2019 do IBGE. No Brasil este número ultrapassa os 28 milhões. Desde 2016, o gráfico só sobe. A pesquisa do Data Sebrae revela ainda que a maioria desses empreendedores tem nível de instrução Fundamental Incompleto, são 43,9%. Esse dado revela duas coisas: o cearense é mesmo um lutador, antes de tudo um forte. E escoa numa interpretação que é reflexo dos níveis de desemprego formal, há de se empreender por necessidade.
Mas como começar? Toda boa ideia precisa de investimento inicial ou um impulso financeiro para alavancar. Um caminho é o microcrédito. O Banco do Nordeste, líder em empréstimos do tipo, em 2019 teve um investimento de R$ 13 bilhões, através do Crediamigo. O valor, anunciado em janeiro deste ano, é 14% maior do que o registrado em 2018. Depois do Banco do Nordeste, a instituição que mais atua no microcrédito é o Santander, com 500 mil clientes, segundo o Governo Federal. O volume de microcrédito correspondia a 0,3% do endividamento do brasileiro, em junho de 2019, aponta relatório da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
"O microcrédito é uma operação para quem tem baixo poder aquisitivo, quem não tem condições financeiras de um investimento inicial. É um grande estímulo à economia do País. As pessoas conseguem colocar em prática o que imaginam", explica Claudia Brilhante, diretora institucional da Fecomércio/CE. Mas antes de fazer um microcrédito é importante que o empreendedor faça uma autoanálise. "Primeiro, o empreendedor deve compreender qual é o momento do negócio, se ele precisa de fato desse crédito, porque ele vai enfrentar o desafio de pagar esse dinheiro. Segundo, é importante avaliar qual tipo de crédito ou financiamento ou recurso é o mais interessante pra ele", analisa Silvio Moreira, analista técnico do Sebrae.
DOCE OPORTUNIDADE
PAULA LIMA
paulalima@opovo.com.br
Imagine chegar o dia do aniversário do seu filho e não ter bolo para comprar? Há oito anos, Juliana Cunha, que era atendente de uma clínica médica, passou pelo aperreio que mudou os rumos da sua carreira. Era feriado em Fortaleza, então Juliana decidiu fazer ela mesma o bolo pro aniversário do filho. "As pessoas que estavam na festa começaram a falar que meu bolo não era horrível e perguntaram por que eu não fazia para vender", diverte-se. Foi assim que Juliana começou a fazer bolo para os amigos, e os amigos dos amigos gostavam, faziam encomendas e no boca a boca a produção caseira foi crescendo. "Eu não sabia nem cobrar, nem nada. Mas como as pessoas estavam gostando percebi que poderia ser um negócio." A clínica onde Juliana trabalhava tinha uma lanchonete que também virou cliente, mas perdeu a funcionária. "Começou a crescer, não faltava cliente, então decidi ficar só com os bolos. Até que começaram a me perguntar se eu também fazia doces", conta.
Juliana decidiu fazer cursos para incluir no seu catálogo de encomendas toda a parte de doce de uma festa. "Comecei a me profissionalizar, criei o Instagram e isso impulsionou muito as vendas", lembra. Foi quando oficialmente nasceu a Bom de Ju, na cozinha do endereço de Juliana, no Cristo Redentor. O ano era 2016 e Juliana enfrentava algumas limitações para comprar equipamentos de confeitaria. "Neste ramo de confeitaria, é tudo muito caro. Existe uma panela para fazer brigadeiro que mexe só, custa R$ 1.500. Para quem está iniciando nada é fácil. Uma espátula simples custa a partir de R$ 20". Um grupo de amigos convidou Juliana para fazer o Crediamigo, linha de microcrédito do Banco do Nordeste. Mas ela decidiu reunir a família e fazer o próprio grupo. Junto com a mãe e os irmãos reuniu quatro segmentos para impulsionar: cosmético, automotivo, festas e a confeitaria.
"Se eu tiver capital de giro, eu vou estar sempre produzindo. Ninguém deixa de fazer festa e comemorar. Eu não fico sem vender. Agora mesmo vou começar a produção de Páscoa", revela. Para pagar a prestação de R$ 500 mensais, Juliana conta que todos os dias tira do caixa uma parte do valor. "Pesquisei em outros Bancos, mas o BNB era a melhor taxa de juros. Já recebi proposta de outros bancos, mas já criei um vínculo de confiança com o BNB, sempre facilitaram muito pra mim", diz.
Quando os pedidos diminuem, Juliana tem a estratégia pronta: "invento alguma receita, porque se for novidade, o povo compra". Para quem ficou inspirado com a história da Bom de Ju, o instagram para pedidos é: @bomdeju. (Paula Lima)
VALE MUITO!
Dica da empreendedora
"Tudo difícil, mas tem que arriscar mesmo. Se você não fizer nada é que não consegue. Se trabalhar, se paga. Com produto de qualidade e bom atendimento ao cliente não falta mercado."
Aos 40 anos, Antônio Monteiro pode ser comparado ao personagem icônico da série Todo Mundo Odeia o Chris: Julius. Assim como o pai de Chris, ele mantém dois empregos. Há muito tempo tem sido assim. "Eu trabalho à noite como vigilante, vai fazer 19 anos. De dia, fico na mercearia", explica.
O Mercadinho Monteiro foi uma ideia para complementar a renda, mas também uma forma da esposa de Antônio, Daniela de Oliveira Barbosa, trabalhar em casa e cuidar do bebê do casal. Na época, ele era mototaxista (profissão que exerceu durante dez anos), mas, com o trânsito cada vez mais perigoso, passou a ajudar a mulher no comércio no Barroso I. No começo do negócio, eles tinham uma geladeira, os frangos e os refrigerantes ficavam misturados. Aí veio a oportunidade, por meio de uma vizinha, de participar de um grupo do Crediamigo. A linha de microcrédito do Banco do Nordeste possibilitou, além da compra de mercadorias, melhorias no Mercadinho Monteiro. "Nesse último empréstimo, foi investimento para [compra de] arroz, feijão, mercadorias", lembra.
Cliente desde janeiro de 2000, Antônio se orgulha dos dois freezers e das prateleiras. "O pessoal chegou dizendo: 'Vixe, melhorou'. Onde a gente mora tem muita mercearia, mas temos nossos clientes, mais no caderninho. Não tem como tirar, não", explica, com humor. A rotina de Daniela começa às 8h, quando abre as portas do Mercadinho Monteiro e só fecha para o almoço; às 15h, Antônio assume o atendimento no local. Ele entra no emprego de vigilante às 18h e só sai às 6h da manhã. "Eu já estou acostumado, durmo um pedaço", garante. Pai de dois filhos, ele usa o salário para pagar o colégio dos filhos. E conta que a mercearia tem sido fundamental para o sustento da família: "alimentação é toda de lá".
O último empréstimo foi parcelado em cinco vezes. Todo mês, o casal já sabe, é preciso separar cerca de R$ 1.000 para o pagamento. "Tem visitas que eles fazem pra mostrar o que você fez com o dinheiro, tem reunião."
A longo prazo, Antônio quer continuar a organização financeira. Por ano, são dois empréstimos para movimentar o negócio. "Sempre tem o sonho de aumentar, principalmente quando eu me aposentar", planeja. Quando as vendas não vão muito bem, ele começa a pensar em promoções, "tanto pra comprar [produtos], quanto pra atrair mais cliente".
SERVIÇO
Mercadinho Monteiro
Onde: Rua 6, n0 105 - Barroso 1
Funcionamento: Das 8h às 20 horas
Telefone: (85) 98871.1431
VALE MUITO!
Dica da empreendedor
"Persistir que dá certo, é difícil, mas dá certo. Com ajuda, que a porcentagem é baixa, dá pra trabalhar com capital de giro."