tatuagens com mulheres

A relação entre tatuadoras e sua arte vai além de estereótipos. Elas comandam a máquina de tatuar com estilo e habilidade

Por Lua Santos (Textos) Por Ethi Arcanjo (Imagens)

Ao pensar em tatuagens, você ainda guarda aquela ideia de um estúdio cheio de homens? Ou quando pensa em mulheres tatuando, logo vem à mente aquela mulher linda, em um jeans colado, blusa com decote e cara de má, estilo Kat Von D? Está na hora de você rever os seus conceitos!

O mundo da tatuagem tem mais espaço para a arte de mulheres que vêm fazendo um trabalho de altíssima qualidade e deixando a cara de má e os demais estereótipos de lado. Conheça três dessas artistas e o que elas têm a dizer.

"Você tem que ter coragem..."

Podemos dizer que Patrícia Borboleta é da velha guarda da tatuagem. Lá se vão mais de dez anos de trabalho, vindos de uma época em que não tinha quem quisesse passar nenhum tipo de estudo sobre tatuagens, principalmente para uma mulher. "Eu fui observando os tatuadores, vi como montavam a máquina... Foi mais de um ano de observação para poder me engajar em tudo." O nome vem da enorme borboleta que ela tem tatuada nas costas. "Eu já fui pro estúdio sabendo que, quando eu saísse de lá, eu ia passar na rua e ia todo mundo virar para mim, e a família também ia cair em cima, mas você tem que ter coragem."

Tanto tempo no mercado renderam a Patrícia muitas histórias para contar. Se já sofreu algum preconceito por ser mulher? "Já aconteceu de chegar uma mulher na loja, e eu dizer que eu era a tatuadora, e ela dizer que preferia fazer com um homem. E os meus trabalhos eram melhores do que os do tatuador que estava iniciando na loja, e ela disse que era porque não confiava." Soou como se não confiasse nela mesma, afinal, era uma mulher como Patrícia.

Por outro lado, ela sabe que tem muitos clientes que preferem se tatuar com ela justamente por ela ser mulher. "Também existem homens que acreditam mais no meu trabalho por eu ser mulher, que tenho a mão mais leve, que sou mais perfeccionista." Apesar de ver um crescimento no espaço para mulheres que queiram ser tatuadoras, ela admite que ainda existe o assédio, mas reforça que os tempos são outros e não é preciso seguir qualquer estereótipo. "Têm, às vezes, olhares, mas a gente aprende, com o tempo, a se impor, não precisando daquela imagem de homem, de bruta...."

"E daí se eu for uma tatuadora delicada?"

Ela até tentou fazer cara de malvada, mas o estilo de Amanda Roosevelt não é bem esse. "Você tem que forçar um estereótipo de tatuadora machão para poder ser aceita. Nos últimos tempos, eu quero quebrar isso. E daí se eu for uma tatuadora delicada? Se eu vou trabalhar de salto?" Mas além de ser mulher, o maior preconceito que Amanda sente na pele, na verdade, é o peso da pouca idade.

Com apenas 21 anos, há quem imagine que ela não tenha habilidade o suficiente para fazer um bom trabalho. Suas tatuagens são bonitas e delicadas como ela própria. "Já ouvi coisas do tipo: "Você fala tão bem pra quem é tatuadora!'. Essa é uma profissão muito desconhecida, muito de estereótipos. Já aconteceu também de ouvir das pessoas: 'É você quem tatua? Eu achava que você só desenhava!'"

Apesar de ter tido a sorte de ter sido convidada para aprender a tatuar pelo dono do estúdio, Amanda sabe das dificuldades do mercado para outras meninas que querem seguir os mesmos passos que ela. "O circulo para mulheres entrar na tatuagem é muito fechado." Afinal, é preciso começar de algum lugar, e para começar, é preciso ter espaço e oportunidade. Mas Amanda vê outro lado bem importante desse universo das tatuadoras: a confiança em se deixar "riscar" por uma mulher. "Tem gente que vem se tatuar porque a gente é mulher, porque se sente à vontade, porque já passou por algum constrangimento ou assédio em estúdio."

"A tattoo me fez crescer muito"

Raquel Gomes vai um pouco na contramão do mundo. É tatuadora e estudante de direito. Tatua em casa, e não em estúdio há pouco mais de um ano. Ela sempre desenhou, desde criança. "Eu desenhava como hobby, foi uma coisa que a tattoo me fez crescer muito porque eu não acreditava tanto naquele desenho que eu fazia." Aprendeu a tatuar direto na pele, e conheceu boas pessoas que toparam ser tela para ela. "Uma vez, 'um figura' que eu admiro no mundo da tatuagem, com anos de experiência, disse que ainda se considera aprendiz. Se ele acha isso, imagina eu. Ainda me considero aprendendo!"

Mas andar por caminhos diferentes não a blindou das problemáticas relacionadas ao mundo da tatuagem. "Não é que eu não vá passar por machismo. Acho que passo desde o momento em que alguém que vai se tatuar, nem pensa em se tatuar com uma menina porque acha que não tem talento."

Para ela, é preciso alguma coragem para entrar no mundo da tatuagem. "É uma responsabilidade muito grande, querendo ou não, você colocar na pele de alguém algo que vai ficar pra sempre. Se você se apegar muito a esse medo, você nem começa." Mas é preciso também abrir a mente e deixar de lado a ideia de que mulheres não pertencem ao mundo da tatuagem, ou qualquer outra ideia de que elas podem não fazer um trabalho tão bom quanto qualquer outro profissional da área. "Eu gostaria que um dia a gente não precisasse mais falar de mulheres e tatuagem. A gente falasse de tatuagem e, no meio, claro, tivessem mulheres talentosas assim como têm homens talentosos."

Vídeo

A origem das tatuagens

As origens das tatuagens são quase tão antigas quanto a civilização humana. Os primeiros registros de desenhos marcados em pele humana foram encontrados em uma múmia egípcia do sexo feminino que teria vivido entre 2160 e 1994 a.C.. Mas o mais antigo vestígio encontrado é o do Homem do Gelo, uma múmia com mais de cinco mil anos. As marcas em seus pulsos dividem os cientistas se seriam mesmo indícios de uma tatuagem ou resquícios de tratamentos medicinais dos povos da Idade da Pedra.

Em diferentes povos e tribos, a arte da marcar a pele tinha diferentes significados. Para os japoneses, a arte que começou como uma forma de embelezar o corpo passou a ser proibida em 1870, quando os tatuadores passaram a trabalhar ilegalmente os desenhos característicos de carpas, tigres e guerreiros. Já os descendentes de tribos do Pacífico – localizadas em regiões como Havaí, Nova Zelândia e Tahiti – associavam as tatuagens a classes sociais, ou para indicar a família das quais elas pertenciam.

Nem sempre se marca a pele apenas com tinta. Na Índia, existe a tradição milenar da mehndi, uma pintura corporal feita com henna, geralmente em mulheres, em grandes celebrações como o casamento. Entretanto, essa arte dura no máximo, uma semana. Já várias tribos africanas ainda hoje utilizam a escarificação como cultura de marcar o corpo: cicatrizes são produzidas a partir de incisões feitas na pele.

Estilos de tatuagem

Com cores fortes e vibrantes, as tatuagens Old School remetem ao pós 2ª Guerra, quando elas se popularizaram entre marinheiros e veteranos. Os desenhos são simples, como rosas, âncoras, gaivotas e pin ups.

 

Carpas, dragões, gueixas e guerreiros são os principais símbolos da cultura japonesa representados nas tatuagens orientais. Os mais tradicionais – e corajosos – fazem com bastão de bambu, espetando a pele para inserir a tinta. Mas é perfeitamente possível fazer com máquina.

 

São tatuagens pequenas, delicadas, geralmente feitas apenas com o traço de contorno.

 

O desenho é feito a partir de pequenos pontos. Juntos, ele causam a impressão de desenho cheio. Uma arte extremamente delicada.

 

Na Índia, em rituais e celebrações como o casamento, é um antigo costume as mulheres cobrirem as mãos e mesmo outras partes do corpo com pinturas feitas com henna. Os arabescos têm diversos significados e a pintura dura, em média, uma semana.

 

O estilo está em moda. Trata-se de utilizar uma técnica que lembra desenhos feitos com aquarela, com a tinta mais diluída formando explosões de cores mais delicadas em diferentes tons.

Galeria de Fotos

Título para o link do flip

Descrição para o link do flip