Pensando no Ecossistema

Há mais de quatro décadas, o mundo discute soluções para uma convivência equilibrada entre produção de bens de consumo e preservação do meio ambiente. Plásticos, agrotóxicos, economia circular estão entre as pautas trazidas pela Onu e pelo Greenpeace Brasil este ano

Por Paulo Emanuel Lopes

Foto: Getty Images

A preocupação com a sustentabilidade do Meio Ambiente é, desde 1972, base para a realização do Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado hoje, 5, e idealizado e promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como forma de discutir a relação do homem com seu planeta. Este ano, a instituição sugere como tema a ser disseminado e refletido em diversos países a presença dos resíduos plásticos no ecossistema, em especial nos oceanos. "A problemática da poluição por plástico vem sendo acompanhada há alguns anos, mas foi a partir de alguns relatórios que publicamos recentemente que ficou claro a real dimensão do problema, principalmente em relação aos oceanos", explica Fernanda Daltro, gerente de campanhas da ONU Meio Ambiente.

"Diante dos impactos negativos à saúde humana e do planeta, podemos afirmar que estamos diante de um dos maiores desafios ambientais do nosso tempo." Baixo custo, conveniência e leveza dos produtos plásticos revolucionaram o modo como mercadorias são embaladas e transportadas. De automóveis à fralda infantis e geriátricas, passando pela construção civil, em praticamente todos os setores da sociedade, o plástico ocupa papel preponderante. Seu descarte inadequado, no entanto, vem provocando a poluição de rios e mares, comprometendo a qualidade da água, a vida animal e a alimentação humana. Com o tema, a ONU busca, além de alcançar a conscientização da população, estimular empresas a reformar procedimentos de fluxos interno e externo, diminuindo o descarte de materiais plásticos.

"Individualmente, observamos um maior discernimento [acerca do problema] e essa nova ênfase acaba estimulando governos e empresas a tomarem consciência de que devem entrar forte na temática", acredita Fernanda. A gestora argumenta que grandes empresas, como Unilever e Coca-Cola, estão adotando atitudes para reduzir a emissão de embalagens e que União Europeia, por exemplo, está com a meta de reduzir o consumo de sacolas plásticas para 40 por habitante ao ano - em 2010, pontua ela, a média foi de 176 por habitante.

O governo indiano sediará as celebrações da ONU neste Dia Mundial do Meio Ambiente. O país é uma das nações que apresentam maior taxa de reciclagem no mundo, sobretudo por conta da preocupação com a morte de vacas, sagradas em seu território, em decorrência da ingestão de plásticos. A instituição global propõe a realização de ações coletivas com registro nas redes sociais, acompanhadas de hashtags como #AcabeComAPoluiçãoPlástica.

Economia circular
Como forma de propor uma alternativa ao atual modelo produtivo, a ONU acredita no desenvolvimento do conceito de economia circular, pondera Fernanda. "Vamos todos voltar a produzir alimentos com nossas próprias mãos? Isso seria irreal, dado o tamanho de nossa população. Precisamos adaptar a indústria à realidade do planeta. A economia circular analisa o produto holisticamente. Não podemos colocar coisas no mercado sem refletir, nosso lixo está chegando aos oceanos e pode comprometer a vida no planeta nos próximos anos."

Entre as consequências práticas dessa forma de pensar, é possível citar uma cadeia produtiva que inclua no preço final o custo dos produtos com perfil ecossustentável. "Hoje, estudamos o ciclo completo de vida do produto. Às vezes, ele necessita de pouco material para ser produzido, gera poucos resíduos, mas qual sua vida útil? É totalmente reciclável? Quanto de carbono gera sua distribuição? Se os custos com o Meio Ambiente fossem contabilizados, seriam muito mais altos [os preços dos produtos]", resume.

"Pacote do veneno"
No Brasil, a organização internacional sem fins lucrativos Greenpeace destaca para a data celebrada hoje a luta que trava contra o projeto de lei 6299/2002, proposto pelo senador e atual Ministro da Agricultura, Blairo Maggi. Apelidado de "pacote do veneno", o projeto busca renomear agrotóxicos como "defensivos fitossanitários", além de retirar dos ministérios da Saúde (MS) e do Meio Ambiente (MMA) a responsabilidade pela análise e registro dos produtos – o encargo deverá permanecer apenas com o Ministério da Agricultura.

"O que se tem chamado de modernização ou desburocratização na verdade representa um desmonte da lei atual, de 1989, que oferece razoável proteção e aspectos positivos para a sociedade. Porém, mesmo com ela, o cenário já era muito ruim, considerando que não ha%u0301 fiscalização, controle ou monitoramento adequados sobre o uso de agrotóxicos", defende Marina Lacôrte, especialista do Greenpeace para Agricultura e Alimentação. "O Greenpeace e%u0301 totalmente contra o pacote, assim como diversas organizações da sociedade civil.”

Entre as instituições que têm posicionamento avesso à aprovação do projeto de lei encontra-se a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A opinião foi externada por meio de nota oficial. "Para a Anvisa, o PL não contribui com a melhoria, disponibilidade de alimentos mais seguros ou novas tecnologias para o agricultor e nem mesmo com o fortalecimento do sistema regulatório de agrotóxicos, não atendendo, dessa forma, a quem deveria ser o foco da legislação: a população brasileira."

Marina argumenta que, "pelo fato de o Brasil enfrentar já problemas em relação a%u0300 contaminação de agrotóxicos", o Greenpeace defende que o Congresso Nacional barre as sugestões da proposição legislativa em tramitação. "Muitos estudos trazem casos de contaminação, relacionando essa exposição crônica com uma série de distúrbios, a exemplo de infertilidade, efeitos sobre o sistema imunológico e até mesmo câncer."

-1 milhão de garrafas plásticas são compradas a cada minuto no mundo.
-25,7% da utilização total de materiais plásticos são provenientes do setor da construção.
-19% e 12,1% são os percentuais de resíduos plásticos que advêm da produção dos segmentos de automóveis e autopeças, respectivamente.
-25 quilos é a quantidade de resinas termoplásticas (PE, PP e PVC) produzidas por cada brasileiro. Nos EUA, esse número chega aos 75 quilos.
*Fonte: Feira Internacional do Plástico (FEIPLASTIC) 2017

 

Importância do olhar do poder público

Em meio aos problemas ambientais causados pela mão humana, a reeducação é uma saída. Para a data, Seuma e Sema preparam programações a fim de incentivar a conscientização

Por Joyce Oliveira

Foto: Getty Images

Poluição e desmatamento são alguns dos principais crimes ambientais cometidos pelas ações humanas. As atitudes são responsáveis por prejuízos irreparáveis ao Meio Ambiente, como a extinção de espécies e a contaminação de lagos, rios e lençóis freáticos. De acordo com Suely Salgueiro Chacon, professora do curso de Gestão de Políticas Públicas da Universidade Federal do Ceará (UFC) e doutora em Desenvolvimento Ambiental, existem questões que permeiam a compreensão da responsabilidade ambiental. "A primeira é adotar medidas que garantam que os processos produtivos e o consumo de uma sociedade sejam regulados para garantir o bem-estar social, a segurança econômica e o cuidado com todo o meio ambiente natural", pontua.

A doutora acrescenta que as ações sociais que objetivam a promoção da sustentabilidade são responsabilidades de toda a população, no entanto, enfatiza que o Estado possui papel preponderante na organização social acerca da conscientização. "Nesse sentido, [o poder público] deve investir em políticas públicas, programas e projetos que tenham como fim promover na população, nas empresas e na própria administração pública uma atitude responsável e práticas que levem a uma condição mais socialmente justa e ambientalmente correta", pondera.

Segundo Suely, quando a face pública realiza iniciativas com esse viés, ela ajuda a disseminar informações qualificadas e, ao mesmo tempo, levanta a discussão dos problemas causados pelo consumo excessivo e pelo descarte descontrolado de lixo na natureza. "A educação para a sustentabilidade é uma ação que promove a mudança de hábitos, mudando a perspectiva social com relação ao consumo e à produção."

Maione Rocha, professora da disciplina de Gestão Socioambiental do curso de Economia da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e doutora em Desenvolvimento Sustentável, reafirma que a educação é a base principal para a questão. "Por meio da educação, a gente pode criar uma cultura e mudar a relação do homem com a natureza." Maione acrescenta que a cultura da importância do zelo ambiental desde a infância, há mudanças de comportamentos na sociedade. "Quando isso acontece, desde a criança até o gerente de uma empresa e os governantes, todos vão atuar em favor do Meio Ambiente", pontua.

Maione pondera que a reciclagem de resíduos sólidos é um ponto a que população e poder público devem ficar atentos, e destaca que as ações, depois de lançadas, precisam ser acompanhadas de perto. "A sustentabilidade tem entrado em pauta, mas não vejo as práticas tão fortes como os discursos. É necessário que as ações tenham continuidade de Estado e não de Governo."

Dia Mundial do Meio Ambiente
Em comemoração à data, a Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma) e a Secretaria de Meio Ambiente (Sema), pasta estadual, planejam uma semana de programação para tratar temas voltados à responsabilidade ambiental. Para o momento, atividades e palestras são realizadas para a população.

Engajamento social
A Seuma está desenvolvendo, entre hoje e o próximo dia 12, uma série de atividades com o tema "Por uma Fortaleza Compartilhada e Gentil". A programação reunirá diversas ações para incentivar a consciência ambiental, como doações de mudas, palestras de educação ambiental e sustentabilidade e coleta seletiva e reciclagem e mesa redonda sobre a importância das áreas verdes de Fortaleza.

De acordo com Edilene Oliveira, coordenadora de políticas ambientais da Seuma, o principal objetivo das ações é realizar um trabalho compartilhado com a população. "O poder público não consegue mudar algo sem a participação da população. Por isso, nós buscamos esse engajamento e a participação compartilhada. Nós precisamos do compromisso do cidadão e acreditamos nisso", afirma.

Entre 2016 e 2017, a Seuma realizou ações voltadas para a arborização e lançou o projeto "Árvore na Minha Calçada", por meio do qual as pessoas adotavam uma muda, assinavam um termo de compromisso e a plantava em sua casa. "Nesse projeto, que dura até hoje, mais de mil mudas já foram plantadas", destaca.

Destinação adequada
Para este ano, a Secretaria de Meio Ambiente reservou, entre hoje e o próximo dia 10, uma programação voltada para dialogar sobre a importância da coleta seletiva. Para discutir o assunto, a pasta, junto a 108 municípios, trará seminários, palestras, cinema ambiental, mutirão de limpeza, oficinas, distribuição e plantios de mudas e apresentações musicais. Em Fortaleza, algumas ações — como a primeira corrida do Parque do Cocó e o projeto Viva o Parque — serão realizadas no Parque do Cocó.

De acordo com Ulisses José Rolim, à frente da Coordenadoria de Educação Ambiental e Articulação Social — que compõe a Sema, o atual tema, "Coleta Seletiva - Separando Resíduos, Preservando o Ambiente", tem a finalidade de integrar e mostrar a destinação correta dos resíduos. "O principal objetivo é sensibilizar a população sobre o consumo consciente e a forma de guardar resíduos corretamente", afirma. 

Programação
Confira cronograma de atividades da Seuma e Sema a serem realizadas hoje e nos próximos dias. A programação completa, e gratuita, está disponível nos sites e nas redes sociais das respectivas secretarias.

Seuma
Terça-feira, (05/06)
Entrega da Minuta do Projeto Orla de Fortaleza - 9 horas
Onde: Centro Cultural Belchior (rua dos Pacajús, 123 - Praia de Iracema)

Palestra "Coleta Seletiva e Reciclagem" - 9 horas
Onde: Escola Profissionalizante do Eusébio (rua Maria Teixeira Joça, S/N - Centro - Eusébio)

Quarta-feira (06/06)
Mesa Redonda – Importância das Áreas verdes de Fortaleza - 14 horas
Onde: Universidade Federal do Ceará - Campus do Pici

Palestra "Educação Ambiental e o Programa Reciclando Atitudes" - 15 horas
Onde: Ecofor Ambiental (avenida Rogaciano Leite, 841 - Jardim das Oliveiras)

Quinta-feira (07/06)
Palestra sobre Reciclagem e Políticas Públicas de Meio Ambiente - 19 horas
Onde: Shopping Parangaba (rua Germano Franck, 300 - Parangaba)

Sexta-feira (08 de junho)
Palestra "Sustentabilidade e Agenda Ambiental na Administração Pública - A3P" - 9h30min
Onde: Ecofor (avenida Rogaciano Leite, 841 - Jardim das Oliveiras)
Blitz "Economize água, sua Atitude faz Toda a Diferença! e "Programa Reciclando Atitudes" - 14 horas
Onde: em frente ao North Shopping Fortaleza (avenida Bezerra de Menezes, 2450 – São Gerardo)

Sábado, segunda e terça-feira (09/06, 11/06 e 12/06)
2ª Semana do Mar - Limpeza de Praia e ações educativas com alunos de Escolas Municipais
Onde: Iate Clube (avenida Vicente de Castro, 4813 - Cais do Porto)
Sema

Terça (05/06)
Lançamento da Política de Coletas Seletivas Múltiplas dos Municípios - 14 horas
Onde: Sede da Secretaria do Meio Ambiente (avenida Pontes Vieira, 2666 - Dionísio Torres)

Quinta (10/06)
1ª Corrida do Parque do Cocó (www.corridadoparquedococo.com.br) - 6h30min
Local: Parque Estadual do Cocó
Projeto Viva o Parque - das 7 às 12 horas
Onde: Parque Estadual do Cocó
Solenidade de Encerramento da Semana do Meio Ambiente 2018 - 9 horas*
Onde: Parque Estadual do Cocó

*Assinatura de Termo de Cooperação Técnica para Educação Ambiental em Coleta Seletiva

Responsabilidade socioambiental como ferramenta

A atuação de empresas dentro da concepção da sustentabilidade garante benefícios para a instituição e para a comunidade. Especialistas apontam benefícios de se compartilhar uma visão ecológica

Por Lia Rodrigues

Foto: Camila de Almeida

Cada vez mais, o mundo está atento à responsabilidade social e ao desenvolvimento sustentável. Para as empresas, atuar dentro dessa perspectiva garante benefícios ao Meio Ambiente à sociedade. A consciência de que os recursos naturais não são infindáveis trouxe à tona a necessidade de se encontrar uma solução ecológica. "Essa visão do planeta Terra como um ecossistema limitado, finito, gerou uma discussão sobre os caminhos a serem adotados pela humanidade", afirma o consultor em sustentabilidade Ávila Capibaribe.

De acordo com Roberto Pinto, pesquisador da área de sustentabilidade e professor do curso de Administração da Universidade Estadual do Ceará (UECE), atualmente se fala mais em sustentabilidade do que em responsabilidade socioambiental. "Há um tempo, tem-se a compreensão de que a sustentabilidade engloba três eixos: econômico, social e ambiental", explica.

Além de contribuir para o propósito principal — redução de impactos ambientais e preservação da natureza — investir em soluções sustentáveis pode ser uma forma de otimizar a performance da organização. "Quando empresas e indústrias aderem a práticas de sustentabilidade, isso traz também maior eficiência em tudo, diminui os gastos com energia, com água", explica Capibaribe.

Para Pinto, as iniciativas de sustentabilidade nas empresas encontram sua importância no fato de que elas estão inseridas em um ambiente econômico, social e ambiental e, com isso, têm responsabilidades nesses três aspectos. O pesquisador aponta que as empresas têm se preocupado mais com essa questão, tanto pela conscientização da sociedade quanto pela divulgação de pesquisas e atuação de entidades sem fins lucrativos.

"É crescente a normatização nessa área. Existem normas que podem resultar em sanções por parte do Estado e também pela conscientização das pessoas, pelo mercado. As pessoas deixam de comprar produtos que não estejam sintonizados com a questão da sustentabilidade. As empresas têm que se adaptar", afirma. Pinto ressalta, ainda, que, na academia, professores e alunos têm se interessado mais pelo assunto, o que faz com que a conscientização seja difundida.

Outro ponto de destaque, alerta Capibaribe, é que os funcionários também se envolvem nesse processo e, comumente, passam a difundir as práticas. "Como tudo é feito por pessoas, acaba havendo mudanças no comportamento, nos hábitos e valores das pessoas. Também tem a mudança nos valores [da empresa] e a agregação de valor", afirma.

Resquícios de Mata Atlântica
Mantida e preservada pela Naturágua desde 2002, a Floresta do Curió, também conhecida como Sítio Curió e localizada entre os bairros Messejana e Curió, é a primeira Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie) do Estado do Ceará. Com 57 hectares e três trilhas, o local é uma área de preservação ambiental e conta com pequenos riachos, nascentes e resquícios de Mata Atlântica.

Além da flora, com vegetação nativa e frutífera, a Floresta tem diversidade de fauna com cerca de 90 espécies. Aberta ao público para visitação gratuita, ela conta com uma sala ao ar livre, que pode ser utilizada para palestras, aulas práticas e cursos, realizados por meio de convênios com escolas e universidades locais.

No campo social, a empresa apoia as ações desenvolvidas por um projeto social. "Além da Floresta do Curió, apoiamos o projeto Fonte da Vida, que fica ao lado da empresa e dá assistência a mais de 200 crianças e ao entorno do bairro", afirma Aline Telles Chaves, diretora da Naturágua. O projeto tem como objetivo promover o desenvolvimento de crianças e adolescentes do Parque São Miguel.

Reaproveitar energia
Com atividades de responsabilidade social dentro das orientações propostas pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), a Cimento Apodi traz como valores a conscientização acerca de educação ambiental e cidades sustentáveis. Nos arredores de uma das fábricas da empresa, em Quixeré, na mesorregião do Jaguaribe, a demanda da comunidade por qualificação profissional incentivou a criação do Curso de Operador de Processos Industriais, construído em parceria com empresas da região e coordenação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai/CE).

"A Apodi também tem trabalhado na elevação do nível de escolaridade de seus funcionários e da comunidade do entorno, com parceria do Serviço Social da Indústria (Sesi/CE), que trabalha com a metodologia de reconhecimento de saberes, acelerando o processo de formação dos alunos", explica João Butkus, diretor industrial da Cimento Apodi.

Na esfera ambiental, a empresa participou da criação do Comitê de Sustentabilidade do Vale do Jaguaribe, que integra seis municípios da região com o objetivo de elaborar projetos para o desenvolvimento sustentável do local. "Um dos projetos fruto dessa atuação é o Ecoseletiva, que objetivo encontrar alternativas para a gestão dos resíduos sólidos no município de Quixeré promovendo, prioritariamente, a inclusão social e econômica das pessoas que ainda vivem dos lixões", afirma Butkus.

O processo de fabricação do cimento também tem ações para diminuir o impacto sobre o meio ambiente. Na produção de clínquer — principal matéria-prima do cimento — é liberado dióxido de carbono (CO2). Para um cimento menos prejudicial à natureza, parte do clínquer é substituído pela escória de alto forno, resíduo proveniente da indústria siderúrgica. A adição desse material garante ainda maior durabilidade e resistência ao cimento. A fábrica de Quixeré também irá aproveitar o calor dos gases de escape, que será transformado em energia elétrica.

O Meio Ambiente presente no cotidiano das cidades

Coletivos e ativistas fortalezenses defendem a utilização de áreas da Capital e falam de projetos autorais desenvolvidos nesses espaços

Por Paulo Emanuel Lopes Por Julio Caesar (fotos)

Foto: JULIO CAESAR

Ressignificar as comemorações do Dia Mundial do Meio Ambiente, de modo a associá-lo também ao cotidiano urbano das cidades é um dos nortes de grupos da sociedade civil com foco nas discussões ambientais. Como exemplo é possível citar o coletivo Verdejar, organização ambiental nascida e atuante na Capital. Sem hierarquia, o grupo organiza-se por meio do WhatsApp, explica Franklin Maia, paisagista e integrante do Verdejar. "Quase tudo resolvemos pela internet. Reunimos-nos apenas para as reuniões de planejamento, que acontecem mais ou menos semestralmente."

Um dos projetos do grupo, o "Brincando de Verdejar" destaca-se pela valorização do espaço natural urbano, explica Maia. "Escolhemos alguma área ou parque da Cidade que não esteja sendo bem utilizado. Convocamos voluntários e população da redondeza e marcamos um grande encontro para brincar. Resgatamos brincadeiras que as crianças de hoje, muitas vezes, nem conhecem, a exemplo do pega-pega, carimba, bandeira, pula corda, elástico... Ao final, encerramos com um grande piquenique." Adahil Barreto, Parreão e Praia de Iracema são locais que já receberam a iniciativa.

Um meio urbano menos hostil
"O Meio Ambiente não e só o ambiente natural. As cidades são um ambiente artificial, mas também Meio Ambiente", defende o jornalista Ademir Costa, integrante do movimento Proparque, que desde 1995 atua em Fortaleza. "Temos que incentivar uma função social [aos parques, praças e áreas públicas], porque senão corremos o risco da cidade ir ficando cada vez mais hostil." As iniciativas comandadas pelo coletivo estão associadas ao se apropriar desses espaços, em especial do Parque Rio Branco, onde o movimento teve início.

Os projetos "Oficina do Saber" e "Leituras na Praça", também do grupo, trazem convidados para debater livros diversos com os frequentadores locais, oferecendo uma programação pensada para as questões ambientais. O "Manhã Verde", mais uma das iniciativas, incentiva discussões acerca dos problemas enfrentados pelo Parque, a exemplo do abandono de animais. "Há um excesso de gatos e cachorros abandonados [no Parque Rio Branco]. Eles, para sobreviver, acabam caçando os pequenos animais que ali moram, pequenos répteis e aves, gerando desequilíbrio [do ecossistema]", alerta o integrante do coletivo.

Preservando a fauna silvestre urbana
Cecília Licarião é bióloga e mestre em ecologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Apaixonada por aves, a ativista mantém dois projetos de incentivo à observação e preservação desses animais no arquipélago de Fernando de Noronha. Em Fortaleza, atua como coordenadora de educação ambiental do Parque do Cocó, uma Unidade de Conservação de Proteção Integral. "Temos mais de 130 espécies de aves no Parque. Esta é uma riqueza que a população de Fortaleza precisa estar a par", afirma. Ela explica que uma de suas principais lutas é a ecoeducação.

Preocupada com a preservação da fauna silvestre na Capital, Cecília deseja que a partir deste Dia Mundial do Meio Ambiente o abandono de animais em áreas urbanas passe a ser mais debatido. "O maior impacto hoje, no mundo, para aves são os gatos. Nos Estados Unidos, estudos de 2017 sugerem que, em um ano, os gatos dizimaram um bilhão de aves. Aqui no Brasil, não temos estudos para quantificar isso, mas a predação dos gatos, sem dúvidas, é uma das maiores ameaças à diversidade da fauna silvestre do Parque do Cocó." Há, atualmente, cerca de 200 felinos abandonados no Parque, avalia a bióloga.

A luta pela zona oeste da Cidade
O ativista Aguinaldo Aguiar, do movimento Proparque Rachel de Queiroz, acredita que a luta ambiental vem enfraquecendo esses últimos anos em decorrência da desmobilização das pessoas. No entanto, a criação do Parque Linear Raquel de Queiroz, uma das lutas mais antigas de movimentos ecológicos da zona oeste da capital e oficializada por publicação do decreto 13.292 no Diário Oficial do Município (D.O.U) de Fortaleza, em 2014, mostrou que o esforço do grupo rendeu frutos.

O nome do Parque é uma homenagem à escritora Rachel de Queiroz. O imóvel localizado na região e onde a cearense morou está tombado, mas a luta pela preservação de sua memória não acabou, explica Aguiar. “A casa foi tombada, mas é um bem privado. Apesar do tombamento, moram três famílias no local e a casa está em processo de degradação”, desabafa o ativista.

Abrangendo uma área de 12,5 km, o Parque Rachel de Queiroz preserva importantes cursos d’água de Fortaleza, a exemplo do açude João Lopes, Riacho Alagadiço, Açude da Agronomia, entre outros, pertencentes à bacia hidrográfica do Rio Maranguapinho.

Foto: JULIO CAESAR

Do acidente à descoberta
Estudante do curso Técnico em Meio Ambiente, Myllena Alves, 19, descobriu, depois de cometer um acidente na aula de laboratório, uma potencial maneira de resolver dois problemas que afetam o Meio Ambiente. Myllena conseguiu encontrar uma forma de diminuir o tempo de degradação do isopor de 150 anos a sete meses.

A estudante apresentou, em maio último, seu trabalho na Intel Isef 2018 — maior feira de ciências do mundo — que aconteceu em Pittsburgh, nos Estados Unidos. A jovem recebeu dois prêmios na feira e foi convidada para estudar em duas universidades norte-americanas: Universidade do Arizona e Universidade Estadual do Arizona. A estudante conta que ainda não decidiu o curso que irá fazer, no entanto, quer algo na área do seu trabalho. "Assim, conseguirei desenvolver mais ainda minha pesquisa."

Para colocar o estudo em prática, Myllena pontua algumas questões. "Pretendo encontrar uma empresa ou algo que possa me ajudar com a patente para levar meu material ao mercado", finaliza. (Joyce Oliveira /Especial para O POVO)

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