Porque o que queremos mesmo é exaltar a mulher, o amor, a alegria. Deixar a dor dançar entre círculos de recordações e oferendas e permitir ao poeta reconstruir estradas sagradas para a mulher amada. E aqui estamos com mais uma edição do suplemento Mulher, Beleza & Poesia, celebrando o mês de março, ausentes às datas históricas e atraentes ao consumismo, mas bem perto da linguagem do amor potente quando conjugado por quem sabe iluminar as coisas e os seres ameaçados de anoitecer.
O jornal O POVO, comprometido com a mulher, anualmente, garante reunir escritores trazendo sua criatividade entre as nascentes da beleza, da nudez, das lágrimas, dos longos caminhos e dos versos cantando sempre a mulher amada, ou mesmo a criança neta. E nossos patrocinadores valorizando a literatura cearense também se unem a nós preservando a louvação ao feminino e aos instrumentos da paz e da afetividade.
Iluminados, todos pela poesia, festejamos.
Lêda Maria, editora
O encanto de Léia
Por Lêda Maria F. Souto
Quando estou contigo
minha travessia é de quietude
cruzando rios de águas puras,
voos de borboletas azuis,
jardins de girassóis e lírios do campo.
Quando estou contigo,
contemplo teu corpinho
entregue aos movimentos livres
tocando com sensibilidade
os versos do Sol.
Quando estou contigo,
calculo os sentimentos acolhidos
na boneca já em teus braços maternais
florescendo desejos,
bordando serenidade, sonhos e ternura.
Quando estou contigo,
vejo que não há limites para a alegria,
para a intensidade do amor,
alcançando a luminosidade do teu olhar
e acreditando na beleza do mundo.
Por tudo isso, te peço:
Ensina-me a ser criança...
A minha mãe, habitante da morte
Linhares Filho
Tua branca rede já não se arma
para a sesta. Todavia guardo,
com o ranger longínquo dos armadores,
a placidez do teu sono,
a entreter o meu sonho.
No teu aposento, mansa e invisível, dorme uma ave.
À mesa posta, entre o apetite e a lembrança,
há uma cadeira sem dono.
Falta ao alimento o tempero
que de tuas mãos ninguém pode aprender.
Mas junto a mim está um cântaro
que se encheu de lágrimas que libertam.
As dálias do jardim continuam a florescer,
cada ano, tão brancas, tão viçosas! Contudo,
parecem reclamar a sutileza
de um carinho que o meu sono não esquece...
Teus pincéis dormem
com a resignação de pincéis.
Minha alma imperfeita, a despeito de teres sido
artista perfeita, pede, todo dia,
os últimos retoques.
Santa e elmo,
no navio em que eu encontrar borrasca,
os teus olhos serão santelmo...
No silêncio noturno, não se ouvem mais
os passos cautelosos, com que fechavas
a janela que dá para a rua,
no entanto, percebo,
na lã escura da noite,
o abrigo do teu xale.
Falo
Por Joyce Cavalcante
Das mulheres e dos recursos ilimitados de seus casulos. Suas receitas de magia – tradição sensual transmitida de geração para geração. Seu poder e seu tudo: o homem. Ele e seu universo pronto e acabado, mas sempre por elas transformado.
Falo: deles o principal pedaço – bloco plástico que às vezes se pensa que é de aço, no entanto, fragilidade de vidro envolta em cetim brilhante. É carne, é sangue em seu estado básico, mas poderá vir a ser qualquer coisa que se vier a escolher.
1. De forma cilíndrica e rija, pronto para favorecer o prazer e a procriação. Em repouso, como um pássaro amigo, só suavidade entre as mãos.
2. À vista de um belo torso nu e feminino, qualquer contorno pode vir a ter o pedacinho mais lúdico do corpo masculino.
3. Sombras e luzes aqui serão testemunhas das imensas possibilidades de formas criadas pela necessidade de transcendência.
4. A arte do desejo e de desejar ser maior do que o ser para alimentar a fêmea que quer brincar.
5. Acomodar-se na ausência de matéria, lá dentro, bem dentro, e servir de apoio ao movimento.
6. Esperar imóvel como uma folha sem vento, enquanto a mulher dança e se oferece, vem e desaparece.
7. Ou simular paciência enquanto ela se aquieta e se alcança.
8. Multiplicar-se em muitos, milhares ainda é pouco, para complementar e satisfazer a quem deva, em todos os seus orifícios de prazer.
9. Apresentar-se em forma de energia quântica, aquela que apenas passou por aqui. O ir e o vir balançando ondas de pele e sentimento.
10. Misturar-se. Perder a própria identidade. Achar sua outra metade. Aperfeiçoar a natureza, fazendo-a mais completa. Geração de beleza.
11. O absurdo do encontro dos corpos. A resistência, o encaixe, a coincidência, o absoluto. Mistério a ser desvendado e o quase nada se não for mistério.
Mulher: Apenas te amo!
Júnior Bonfim
Ela me descobriu antes que eu me descobrisse.
Ela me achou antes que eu me encontrasse!
Meus minérios soterrados? Ela identificou com calma
e me mostrou também as crateras da minha alma.
Acima de tudo, colocou asas sobre o meu espírito e, como curadora,
voamos sobre o sagrado espaço do altruísmo que a pele doira
para atestar a possibilidade do reino da generosidade duradoura.
Avessa às honrarias que acendem a fogueira das vaidades,
evita velejar sobre as ondas vãs das futilidades.
Jardineira devotada ao húmus, ou seja, à humildade,
tornou-se o campo germinal da minha poesia de bondade.
Deu-me tudo o que me mantém de pé: a trilha da fé, o ritual do café;
o fermento da luz, a mensagem de Jesus,
o estatuto do mel e a rota do céu!
MULHER, inflamo-me e proclamo: APENAS TE AMO!
Mulher: Apenas te amo!
Júnior Bonfim
Ela me descobriu antes que eu me descobrisse.
Ela me achou antes que eu me encontrasse!
Meus minérios soterrados? Ela identificou com calma
e me mostrou também as crateras da minha alma.
Acima de tudo, colocou asas sobre o meu espírito e, como curadora,
voamos sobre o sagrado espaço do altruísmo que a pele doira
para atestar a possibilidade do reino da generosidade duradoura.
Avessa às honrarias que acendem a fogueira das vaidades,
evita velejar sobre as ondas vãs das futilidades.
Jardineira devotada ao húmus, ou seja, à humildade,
tornou-se o campo germinal da minha poesia de bondade.
Deu-me tudo o que me mantém de pé: a trilha da fé, o ritual do café;
o fermento da luz, a mensagem de Jesus,
o estatuto do mel e a rota do céu!
MULHER, inflamo-me e proclamo: APENAS TE AMO!
Ser mulher!
Angélica Sampaio
Vejamos pelo lado brilhante o que é ser mulher...
Além de assumirmos papéis tão importantes,
tais como o de filha, irmã, esposa ou mãe, profissionais, donas de casa,
devemos cuidar de nós, seja corpo e mente; templo de nossa alma e sentimentos.
Somos guerreiras, que não fogem da luta pela vida.
E que não se entregam por conta de cara feia, mau humor ou melindres.
Por muito tempo, fomos chamadas de “sexo frágil”,
mas o que se tem visto a respeito do modo como enfrentamos a vida,
e depois de todos os avanços da era tecnológica e globalizada,
é que a mulher se superou, tornou-se “antenada” com tudo que está à sua volta.
E, o melhor de tudo, é capaz de ser solidária, generosa, amorosa e incrivelmente feminina.
Portanto, não deixe de transparecer em você, mulher, o que há de melhor em seu coração:
A suprema arte de ser a mulher que é, independente da classe social, cor, credo ou profissão;
E, principalmente, a batalhadora que tem dentro de si.
Ah! Lembre-se: Nosso dia é todo dia. Não deixe de se valorizar!
E um viva por você ser essa mulher plena e guerreira e que não desiste dos seus sonhos.
Percepção
Neide Azevedo
No dia do aniversário,
Fui ao cinema,
Fiz bolo de laranja,
Pintei de vermelho a boca.
No dia do aniversário,
Reguei o pé de hortelã,
Plantei um pé de alecrim,
Dei brilho ao cristal das taças.
No dia do aniversário,
Rezei uma ladainha,
Ouvi a hora do ângelus,
Escrevi uma poesia.
No dia do aniversário,
Não soprei velas,
Não fiz discurso,
Não contei o tempo,
Apenas constatei
Que não sou mais a mesma.
Quimera
Luiz de Gonzaga e Fonseca Mota
Tu caminhas nas veredas
do meu coração;
Pisas, com carinho,
na luz dos meus olhos;
Encontras a verdade
dos meus pensamentos;
Abraçando, assim,
meus puros sentimentos.
- Querida,
como é belo o nosso amor!
Selma
Giselda Medeiros
Ainda a bordo do avião, fico a pensar em Selma. Como será o nosso reencontro?! Imagino-a mais madura, curada daquele trauma antigo. Luís, ao meu lado, finge não perceber minha preocupação, chamando-me a atenção para suas leituras. Sei que o seu objetivo é desviar meus pensamentos.
Ficar três anos longe do Brasil (e sem notícia, pois assim achara melhor Dr. Henrique) fizera-nos um bem enorme. Estamos inteiros Luís e eu, para esclarecer (digo melhor, virar) uma página que não fora lida, muito menos interpretada com exatidão. E se aquelas suspeitas fossem duras verdades? Sempre acreditara no óbvio. Mas se o óbvio passar a ser o não óbvio? Como reagirei? Que atitude tomar?
Após a morte de nossos pais (Selma estava com sete anos), eu, recém-casada, passara a cuidar dela e não me lembro de ter notado, até essa época, nada de anormal no seu comportamento. Era uma criança precoce, é bem verdade. Com o passar dos dias, fomos nos tornando seus pais. Luís a colocava no colo, brincava de cavalinho, de pega-pega, de cabra-cega, enfim, eram duas crianças peraltas. Esse clima, familiarmente perfeito, durou até o dia em que a presenciei amuar-se quando Luís a pôs no colo. Era natural, pensei, já estava mudando: os seios intumesciam-se, os pelos desenhavam-se no corpo e a menarca precoce que lhe chegara. Desde então, comecei a notar algo esquisito no seu comportamento. Fugia para o quarto, sempre com alguma desculpa, à simples chegada de Luís.
Recriminava-me agora por tê-la abandonado. Digo melhor, não abandonado, pois a deixara sob a tutela do Dr. Henrique, que nos aconselhara esta viagem. Deixasse com ele as providências quanto ao caso de Selma.
“Apertem os cintos”... E pouso em minha terra. Meu olhar busca Selma com ânsia dorida. Selma! Selma! (?)
“Olá, Dr. Henrique! E Selma?!”
Selma não viera. Tão moça!
Cheia de interrogações, vi cair sobre Luís o olhar áspero, carregado de revolta, vindo do Dr. Henrique no “como vão”, secamente articulado.
Mulher
Grecianny Carvalho Cordeiro
Que todos os dias sejam seus dias.
Regados a carinho e respeito.
Dentre poucos e dentre muitos.
Que a equidade e a delicadeza
no trato feminino não sejam apenas
o afã de um desejo.
Que o hoje e o amanhã
sejam melhores que o ontem,
banida a opressão e a violência.
Mulher.
Que todos os dias sejam seus dias.
Repletos de alegria.
Realizados anseios.
Poema mulher
José Olímpio
Sou fã d’O POVO porque O Povo não é um Polvo.
Este tem várias garras... Mas O Povo tem uma “garra”.
Esta bem informa o povo. E, através desse O Povo,
Parabenizo todas as MULHERES. Em especial as mamães,
Que, em maio, são mais votadas.
MULHER - A mais vistosa.
Uma joia de senhora.
Luz dos filhos, toda hora.
Honrosa e tão primorosa.
Elétrica no servir s/ demora.
Rainha do lar, amorosa.
A criação
da mulher
Graça Roriz Fonteles
Então, o homem exclamou: “Esta, sim, é osso de meus ossos
e carne de minha carne! Ela será chamada mulher,
porque foi tirada
do homem! Gen. 2.23
Isha, mulher de Adão,
A vagar por entre as flores,
Um beija-flor sem plumagem,
Mais parece uma miragem.
Ao sugar da flor o néctar
Vai multiplicando odores
No jardim da criação.
A serpente segue atalhos
E enroscada nos galhos
Não se importa com Adão,
Seduzindo-a com palavras
Desfaz-lhe a identidade.
Com a Eva paradisíaca
Peca toda a humanidade.
"Botão e flor"
Edmar Ribeiro
Em botão
hibernando, divagando, flanando:
Sina de Menininha;
Em brotação encantando, sonhando, esperando:
Sina de Senhorinha;
Em floração amando, gerando, semeando:
Sina de Madoninha!
Bordando vidas
Fernanda Quinderé
As linhas
Costuram vidas pontuam caminhos
Matizam dúvidas na palma das mãos espalmadas
A espera, talvez, que a alma da mulher,
Reborde destinos.
As linhas do linho desbotado
Bordam no limo do tempo
Gemidos e dores do parto
Do filho nascido da união que se desfaz.
A mulher tece a trama da vida
Nas cores patinadas pelo tempo
Nas mentes matizadas pelo vento
Nascedouro das tempestades.
A mulher traça destinos no ventre,
No amor no olhar azul de Penélope bordando
Rebordando vida a esperar
Como hoje, bordo eu, a teia da vida a entender.
O olhar profano da aurora.
Uma pérola de melhor!
Marcus Fernandes
À minha esposa Cláudia
Vaguei em procelas tempestuosas
Mergulhei fundo em mares insondáveis
Tal qual escafandristas inconsoláveis
Buscando uma joia preciosa
Quando em oceano revolto singrei
Eu não tive dúvida em mergulhar
na perspectiva de encontrar
Linda pérola que tanto busquei
A mulher que adornou a minha vida,
Que acendeu em mim a tocha do amor
Dando-me o coração como guarida.
Pérola de mulher que Deus me deu
Encontrada em meio de desamor
Que veio preencher os sonhos meus.
Mulher X profissão
Aureny Braga
Mulher da modernidade
É Militar ou Dentista
Não perde o ar feminino
Se Delegada ou Artista
É sempre mulher guerreira
Sendo também Jornalista.
Mulher tem capacidade
Dona de casa, Enfermeira
Não perde o brilho que tem
Na arte de Camareira
Ela brilha muito mais
Se ela for Engenheira.
Tem a mulher Humorista
Cumprindo bem a jornada
Tem a mulher Engenheira
E também Advogada
Tem a mulher Psicóloga
Que também é respeitada.
Tem a mulher que ensina
Pois é Mãe e Professora
Tem a mulher Cientista,
Mulher empreendedora
Tem mulher que é mulher
Que do filho é protetora.
Tem a mulher feminista
Que também é feminina
Mulheres que são da luta
E lutam desde menina
Mulher que não se abate
Com o sofrer que lhe destina.
Mulher como todos nós
Que lutamos pra viver
Querendo ser respeitadas
No nosso modo de ser
Para viver nossos dias
Felizes para valer.
Magníficas
Rita de Cássia Brígido Feitoza
O feminino:
o abraço no Universo!
O beijo na alma!
A ponte para o encontro
com a sensibilidade!
Vida, Luz, Criatividade!!!
O feminino:
adjetivos dispensa!
Perfuma-se de essência:
MULHER É! MÃE É!
Mas, para eles, somos hieróglifos,
signos intraduzíveis...estrelas intangíveis,
metáforas enigmáticas por excelência.
E, quando nos percebem, cada vez mais,
insondáveis... inomináveis,
transmutam-se em poetas alquimistas,
lançam-se visionários utopistas,
no afã de alcançarem as instâncias imaginárias,
onde bailamos ao som de místicas árias.
A tradução do SER MULHER:
tão complexa para eles...
tão simples para nós...
Sim, somos traduzíveis
em uma só palavra: AMOR!!!
Em nosso AMOR, tudo reside:
nossas ansiedades... nossa placidez,
nossos receios... nossa sensatez.
As virtudes e as imperfeições
de nossas almas e corações,
de-li-ci-o-sa-men-te contraditórias,
dessacralizando nossas histórias.
Desculpem-nos, ó “Romeus”,
não somos Julietas!!!
Não nos interessa morrer por amor,
mas, sim, viver para amar!!!
Desculpem-nos, “Príncipes Encantados”,
não somos as Belas Adormecidas,
embora sejamos belas!!!
Impossível dormir tantos anos!
Precisamos viver nossos planos!!!
Que nossas inspirações e nosso mister
nos conduzam bem mais além...
e que a Terra ao soar “MULHER”,
os céus ressoem:“AMÉM!!!”
Criação derradeira
Michelly Barros
Em meio ao Éden sem provar de amores
Adão sentiu-se só em um dia qualquer
Para competir então com a beleza das flores
Da costela do homem eis que surge a mulher.
É essa tua pele que tanto me aquece
Ou o teu abraço que aconchega e acalma?
Será tua voz que ao mundo estremece
Serão os teus sonhos que elevam minh'alma?
Qual teu nome, não ouso perguntar
Sei que és filha, mãe, amiga e companheira
Ser que carrega em si o dom perpétuo de amar
Obra-prima de Deus, criação derradeira!
Mulher, mãe e amor!
Paulo Eduardo Mendes
Entre lágrimas
Penso e escrevo
Mulher, mãe e amor
Mulher
Pelo seu dia sempre
Mãe
Pela alegria de tê-la
Sempre entre nós
Amor
Eterno sentimento
A interligar
Mulher, mãe e amor
No mesmo esquema
Da perfeição divina
Mulher fica pela forma
Mãe pelo símbolo
Amor eterniza
Cristalizando a lágrima
Pela partida
Sempre inesperada
Da vida física
Tão próxima
Do nosso abraço
Do nosso beijo
De saudade...
Trilhas de um amor mulher
Luca Rocas
Fui seus pés acarinhando
Num encontro de amar
Vi seu sorriso mudando
Com meu jeito de tocar
E com modo angelical
Vi um lume natural
Dar mais brilho ao seu olhar.
Fiz carinho em sua perna
Toquei a pele macia
E com sua mão materna
Meu cabelo acaricia
Me toca com seu sorriso
E me dá o paraíso
Num abraço de magia.
Eu beijo a sua barriga
De modo muito cortês
Pois nela você abriga
O filho que a gente fez
E no meu acarinhar
Você me pede no olhar
Pra eu beijar outra vez.
E de modo bem tranquilo
Continuo a lhe beijar
Acaricio um mamilo
Quando no peito a tocar
E o deixo protegido
Pois dele será nutrido
O filho no amamentar.
A boca beijo com calma
Numa suave emoção
Colho um abraço de alma
Escuto seu coração
E num encontro de amor
Nos damos real valor
Em viver em comunhão.
E pelos encantos seus
Esqueço prazer qualquer
E só agradeço a Deus
Todo bem que Ele me quer
Que com seu dom criador
Me fez um lume de amor
Da grandeza da mulher.
As Valquírias
Sergio Macedo
Nenhuma filosofia me encanta,
sempre que a alma se dilacera em dúvidas.
E, valquírias em seus cavalos alados,
tem sabor de sangue na boca,
retorcendo meu fôlego em descontinuidades na crença,
em dívidas com a coragem,
certezas com o medo do depois.
Impiedosas valquírias,
jamais vestais,
insistem de forma guerreira
sobre conflitos das dúvidas,
solapando sua própria beleza,
com o risco de perda permanente da minha alma.
Por que estas dúvidas perversas?
Por que não a ingenuidade dos puros, crendo sem fazer perguntas?
Sem admoestações ou tinta cinza?
É apenas retórico não exercer a dúvida.
Patético, por-se de joelhos,
apenas aos olhos dos outros.
Perversas valquírias, que não me matam,
Entretanto, não me calam.
Mulher
Ubiratan Aguiar
Síntese e análise da vida
Fonte e foz do amor
Sacrário vivo da humanidade
Refúgio da paz na guerra
Luz a iluminar caminhos
Mãe e mestra dos seres
Porto seguro da família
Pátria primeira de todos nós
Leito de ternura e carinho
Poema recitado nos corações
Mulher: princípio e fim
Ancoradouro existencial
Companheira solidária
Destino, sonho, ideal
Primeiro sol da manhã
Brisa das noites enluaradas
Estrela guia, raio de luz
Vence, conquista, seduz
Amanhã do hoje e do ontem
Futuro das gerações
Poção de mulher
Beatriz Alcântara
Melancólica por tantas horas
doadas ao acaso absurdo,
a mulher de humor, imagino-a
correndo mundo afora
com botas leves, macias
e só muito depois, feliz, livre, a rir,
mesmo cansada,
deixar-se escorregar
sentada de encontro a uma árvore
no cimo de um monte
a espiar o vulto do nada
de olhos fechados
na fresca tarde
só respirando
sem pensar
ou sentir nada
Mulher: Vida e Esperança
Olímpio Araújo
Na barraca, em frente ao mar.
Sol quente, verão cearense.
Praia do Futuro, que imensa...
Sai de mim, tristeza, poxa!
Cá, ao lado, um par de coxas...
Mas que beleza exemplar!
Ruge todo encantador
O mar brabo a minha frente.
Abraçando a areia ardente...
E não há prazer em mim.
Mas pra que ficar assim?...
Só tristeza!? Quero amor!!
Diz a nuvem que passeia:
“Natureza, que beleza!”
No homem, só aspereza...
Será que não há saída?
Inda bem que vejo vida:
Um par de coxas na areia...
Mais que isto, esperança...
Minha vida tem sabor!
Deixo o sol abrasador
(Renovada a minha fé)...
Abraço minha mulher,
Que me beija, ginga e dança...
A ternura de nossa mãe
Jaildon Correia Barbosa
Sua própria autoridade
Misturada com candura
Educava pro futuro
E sem perder a ternura
Ela sabia dizer não
Em qualquer situação
Pois seu legado perdura.
Cantarolava modinhas
Às vezes assobiava
Entretanto, a nossa vida
Mamãe supervisionava
Desejando tudo correto
De modo muito concreto
Pros filhos que tanto amava.
Eu te saúdo, mulher!
Gilmaíse Mendes
Eu te saúdo, mulher guerreira, mulher pobre, mulher negra,
Eu me felicito contigo, mulher trans, mulher feminina, mulher "nem", Mulher afoita, mulher medrosa, mulher devota, mulher descrente.
Aplausos para ti, mulher mãe-pai de muitos filhos, a criar e a educar sozinha seus rebentos. Mulher esquálida, a lata na cabeça, mulher "faz tudo" sem reclamar, pois pensas: é a vontade de Deus.
Mas não te esqueças, grande mulher, que, sem o homem, a tua vida se esboroa sem os encantos do lar, sem o companheirismo que te faz mais mulher e mãe, povoando o Planeta Terra.
Perfil
Révia Herculano
Assim me olharão melancólica ou espontânea,
som e silêncio, sol e lua, perfil anacrônico
no caos desigual desses dias sem gênero,
nas vias do não que convida e assombra.
Sou noite suando dia, esperança desmedida.
Num ser só, sou inúmeras, plural, mesmo idêntica.
Derrotado de guerra entoando canções. Flor nascida
e colhida por mão mutilada!
Haste anêmica que aponta a estrela do céu da nova tarde.