Indústria Têxtil na Era Digital

Editorial

Por Paula Lima

O Ceará é o sexto maior polo do Brasil em produção têxtil e de confecções e segundo no segmento de moda íntima. O setor contribui com algo em torno de R$ 456 milhões por ano no Produto Interno Bruto do Estado e é responsável pela geração de mais de 13,2 mil empregos. Já em lugar de destaque na economia do Ceará, a indústria têxtil se reinventa. Desdobra-se para sua versão 4.0 com tecnologia, leitura de dados, sustentabilidade, potencializando produção e investindo em capacitação.

Nas páginas a seguir, mapeamos de que maneira as indústrias têxteis e de confecção no Estado e no País estão absorvendo a tecnologia em processos de produção, economizando recursos, contribuindo com a sociedade e diminuindo estoques.

Ainda há os desafios de crescer, tornar o crédito mais acessível, driblar logística e agregar o setor. Mas a indústria têxtil olha para o futuro e aponta: a internet das coisas vai possibilitar uma melhor comunicação entre as máquinas, que passarão a dar soluções para o ambiente interno da indústria e o ambiente externo; a costureira deve ter sua função mais ampliada, com conhecimento mais abrangente sobre os processos; haverá alto grau de personalização de produtos e menos agressão ao meio ambiente. O que já se desenha é que a era digital já começou.

Setor têxtil: a versão 4.0 já está logo ali

Otimizar resultados, crescer em produtividade e potencializar o uso de dados para traçar estratégias é o que comanda a revolução que a indústria têxtil experimenta em sua versão 4.0

Por Irna Cavalcante

Lençóis de cama feitos com tecidos especiais que ajustam a temperatura para oferecer maior conforto térmico a quem vai usá-lo; body que mede a febre do bebê e já dá o sinal de alerta para mãe no celular; a roupa em que o consumidor é quem escolhe o modelo na loja e a indústria, confecciona de forma 100% automatizada, em apenas duas horas; entrega de pedidos feita por drones. Estas e outras inovações já estão sendo desenvolvidas em protótipos de universidades e empresas mundo afora e muito em breve devem chegar ao mercado. Frutos da indústria 4.0, considerada a quarta revolução industrial, e que vai mudar de forma significativa a forma de produzir e consumir produtos em toda a cadeia têxtil.

A corrida pelo domínio de novas formas de produção - que envolve a integração de sistemas físicos e digitais, uso de novos materiais na confecção de fios e tecidos, realidade aumentada, big data, inteligência artificial, robótica, nanotecnologia e biosustentabilidade - já começou. Países como Alemanha, Estados Unidos, China, Japão e Brasil já estão adaptando seus parques fabris para esta nova realidade, explica o presidente emérito da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Rafael Cervone. "A realidade é que o mundo inteiro ainda não está na indústria 4.0. É um processo de transformação e transição, mas o Brasil está bem avançado nesta discussão".

O Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil (Cetiqt) do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), no Rio de Janeiro, por exemplo, desde 2017 conta com uma planta-piloto de Confecção 4.0, em que peças sob medida são produzidas em até 18 minutos. Sendo que as medidas do usuário são conferidas por um espelho virtual. E no Senai de São Paulo, a planta inaugurada no último mês avançou um pouco mais neste processo, contemplando a automatização inclusive da última etapa de produção.

E embora a realidade brasileira seja muito heterogênea, com muitas empresas artesanais, outras tantas na 2.0, hoje, os principais players do setor, sobretudo da indústria têxtil, estão na tecnologia 3.0, que automatiza processos e os torna cada vez mais eletrônicos. O próximo passo, no entanto, é fazer com que esta alta tecnologia converse entre si, otimizando resultados, aumentando a produtividade e fazendo maior uso da grande quantidade de dados que estão sendo gerados. Esta capacidade de explorar estes dados, é na avaliação dele, o verdadeiro pulo do gato para indústria 4.0.

"As empresas estão morrendo de sede em um oceano de dados. Hoje a indústria como um todo produz uma infinidade de dados. O grande problema é que não se utiliza esses dados. Pesquisas mostram que 90% dos dados mundiais foram criados nos últimos dois anos e 80% deles não estão estruturados".

Em seu livro "A quarta Revolução Industrial do setor têxtil e de confecção: a visão de futuro para 2030", reeditado pela Abit em 2017, o engenheiro Flávio da Silveira Bruno, destaca, dentre as principais tendências no setor, o uso de novos materiais, como o grafeno (material derivado do grafite, altamente resistente, leve e condutor de eletricidade), para incorporar tecnologia e ampliar as possibilidades dos tecidos. Já as indústrias de confecção tendem a se tornarem mais compactas em função da alta tecnologia embarcada, com alguns elos da cadeia a menos, mais dinâmicas e com alto grau de personalização de produtos em que será necessário que o núcleo de produção esteja cada vez mais próximo do consumidor final. E no varejo o que se vislumbra é uma inserção maior de tecnologia em processos e o fim dos grandes estoques.

Atuação cooperativa será determinante para novos mercados

Por Irna Cavalcante

O sistema têxtil no Brasil e o cearense - que é o sexto maior polo de produção do País - é marcado por ter poucas mega empresas e uma enorme quantidade de micro e médias empresas, principalmente na confecção. O que hoje traz desvantagem quando se fala em produtividade, mas, com as políticas adequadas, pode se configurar em diferencial competitivo quando migrar para modelos de distribuição 4.0.

“Isso beneficia muito a micro e pequena empresa, porque exige uma atuação mais cooperativa”, explica o presidente emérito da Abit, Rafael Cervone. 

O varejo também vai ser um importante indutor deste processo, explica Márcio Mariano Junior, diretor da Forsee, consultor da Goldratt Israel e diretor do comitê de startups industriais na ABStartups.

“O modo de comprar tem mudado rapidamente, a necessidade de ser omni-channel (estar em todos os canais de vendas, físico, internet, WhatsApp, etc.) força os lojistas a serem mais ágeis, terem informações atualizadas e usá-las de forma estratégica. Neste quesito soluções de Inteligência Artificial e Big Data Analytics pode contribuir muito”.

Ele explica que hoje já há empresas no Brasil que, por conta da tecnologia, conseguiu aumentar em mais de 120% seu mix de produtos na loja ao mesmo tempo que vendeu 30% mais e reduziu em 70% o estoque graças à uma profunda análise de seus dados.

O alto custo da modernização ainda é um desafio para muitas empresas. Porém, há um consenso de que as soluções se pagam muito rapidamente e ano após ano as soluções digitais vem melhorando de preço. Por outro lado, é preciso preparar a cultura das empresas para este novo cenário. ”O maior desafio é cultural, mudar a mentalidade. O que ocorre nesses casos é que as empresas “early adopters”, as que primeiro usam algum tipo de solução, saem tanto na frente de seus concorrentes que depois fica difícil alcançá-las ou muito mais caro do que seria inicialmente”.

Para onde caminha a indústria

Por Irna Cavalcante

Foto: MAURI MELO
Meiri Bueno, diretora de manufatura da DelRio, diz que desafio é integrar tecnologia com capital humano (Foto: Mauri Melo)

Lingerie é um dos maiores segmentos da indústria têxtil no Ceará. A DelRio, há 50 anos no mercado, reúne tecnologia de geração de energia e fabricação de tecido inéditas no Estado.

Peças feitas sob medida, de forma personalizada pelo consumidor, mas em grande escala. Esta é a percepção de futuro do setor têxtil para os próximos cinco anos, na avaliação do empresário, Carlos Pereira, presidente da cearense DelRio, uma das maiores empresas de lingerie do País, que produz mais de 50 milhões de peças por ano. E para não ficar para trás, ele conta que a empresa tem investido pesado na modernização do maquinário - só este ano foram investidos mais de R$ 20 milhões em tecnologia - e na capacitação dos seus funcionários. “A indústria 4.0 não tem volta. Ou você abraça a tecnologia, ou está fora”.

A DelRio lançou recentemente uma linha “3D Technology”, com design minimalista, que traz um tecido com construção tridimensional e espaçamento entre as lâminas que dispensa reforço extra e garante maior conforto térmico. As linhas de calcinhas sem costuras já são feitos quase sem intervenção humana. O maquinário é de última geração e desde o início deste ano algumas etapas de produção já podem ser acessadas e controladas pelo celular.

A diretora de manufatura, Meiri Bueno, que acabou de se formar na primeira turma de Master In Business Innovation (MBI) em Indústria Avançada: Confecção 4.0, realizado pelo SENAI CETIQT, diz que o próximo passo é expandir os sistemas supervisórios, que garantem a integração das tecnologias das diferentes máquinas, para um big data que auxiliem na tomada de decisão. “A indústria 4.0 é isso: fazer a integração das tecnologias com o capital humano”.

Os investimentos em formas de produção mais sustentáveis também enchem os olhos do empresário. A fábrica que foi uma das pioneiras no Ceará a produzir a sua própria energia a partir de biomassa da castanha, agora se prepara para inaugurar no início de 2019 a segunda etapa do projeto de tratamento de água, que vai possibilitar ampliar o reuso dos atuais 70% para 100% em todas as etapas de produção. "Isso significa muita coisa, ainda mais sendo uma empresa localizada no semiárido nordestino. Por dia nós usamos mais 700 mil litros de água, não dá mais para conceber que não seja reaproveitada". 

Foto: MAURI MELO
Carlos Pereira, presidente ds DelRio, empresa cearense de lingerie e uma das maiores do País (Foto: Mauri Melo)
 

Tecnologia sustentável com DNA cearense

Por Irna Cavalcante

Foto: AURÉLIO ALVES
Rafael Studart: camisetas são produzidas com garrafas pet (Foto: Aurélio Alves)

Um dos pilares da indústria 4.0 é a sustentabilidade. Não só em função da própria realidade imposta que é a de escassez dos recursos naturais, como também uma forma de reduzir custos e um apelo próprio dos consumidores. E é com este conceito de ambientalmente correto e socialmente inclusiva que a marca cearense Vida BR vem ganhando mercado.

Criada em 2012, pelo empresário cearense Rafael Studart, 32, a Vida BR surgiu em função de uma campanha para arrecadar fundos para o município de Milhã, devastado pela seca. Em um mês, foram vendidas 500 camisetas que deu para comprar 3 toneladas de alimentos e seis mil litros de água.

Depois disso, passou dois anos estudando sobre tecnologia, reciclagem e efeitos para chegar na coleção Fotossíntese, que produz camisas a partir de algodão orgânico e garrafas pets. Para cada peça, são usadas duas garrafas pets que antes teriam como destino lixo. As camisas brancas, de tecido extremamente macio e duas vezes mais resistente que os feitos 100% de algodão, quando expostas à luz solar também ganham cor e novos elementos surgem nos desenhos.

A produção ganhou escala e hoje são produzidas em torno de 7 mil peças por mês e, este ano, passaram a ser exportadas para Suíça. "A tecnologia pode ser importante aliada para redução de danos. E, não tem para onde correr, isso é uma forte tendência. E nos últimos cinco anos, o que percebemos é um aumento da conscientização das pessoas e empresas para questão da sustentabilidade. Não é só moda, vai muito além disso", afirma Rafael.

Foto: AURÉLIO ALVES
Vida BR ganha o mercado (Foto: Aurélio Alves)

A marca também aposta em inclusão social. As etiquetas são feitas de papel semente que é produzido pelo projeto Resgate, comunidade terapêutica que funciona no município de Eusébio, e que hoje atende em torno de 16 dependentes químicos e pessoas em situação de rua. Se destacadas da camisa, podem ser plantadas e se tornar árvore novamente. Hoje já são produzidas sementes de rúcula, manjericão, salsinha e cravo da índia.

O coordenador do projeto Resgate, Marco Túlio, explica que no início ficou surpreso quando Rafael chegou na comunidade com o intuito de ensinar um novo ofício aos participantes. "No início achei tudo muito louco, fazer embalagem de papel reciclado de forma que pudesse ser plantado novamente. Mas aí a gente foi testando, aprendendo novas técnicas e vimos que poderia dar muito certo".

Hoje, além de produzir as etiquetas e cartões de visita da Vida BR, a Ecoviver, marca criada pelo projeto Resgate, ampliou a linha para outros itens de papelaria e atende dez empresas no Estado. A produção de papel semente além de ser uma importante fonte de renda para manter o projeto, tem ajudado a resgatar a autoestima dos participantes. "Assim como o papel que chega aqui feito lixo triturado, estes homens chegam aqui com a vida destruída, desacreditados, mas tem a oportunidade de se transformam em uma nova folha pronta para ser reescrita a própria história".

As principais tendências no setor têxtil 4.0

Social Manufacturing: é um princípio que torna viável, por meio da tecnologia, a produção personalizada em grande escala. Ou seja, o consumidor é quem decide como quer o produto que vai ser feito de forma rápida e com qualidade.

Fábricas compactas: Cada vez mais as plantas industriais tenderão a verticalizadas, modulares, flexíveis e de pequenas dimensões. E instaladas mais próximas dos centros de consumo.

Menos estoques: a estratégia Purchase Activated Manufacturing (PAM) é uma ruptura tecnológica. A partir de um estoque físico de tecidos brancos, não há mais estoques de produtos acabados. Nada é produzido materialmente antes que a ordem de compra seja finalizada e paga pelo consumidor. O prazo de entrega é instantaneamente reduzido para alguns dias,em vez de meses.

Versatilidade: a tecnologia Active Tunnel Infusion (ati) permite trocar de cor – qualquer cor e diversas cores – em cada peça de roupa, em tingimentos, desenhos e estampas, eliminando os estoques de produtos acabados. A ideia é que cada fibra possua energia armazenada em sua formação suficiente para que sejam criados canais por onde o corante caminhe e penetre em seu interior.

Sistemas automatizados: robotização, sensores, inteligência artificial, Internet das Coisas (IoT) deverão fazer com que serviços repetitivos, que coloquem em risco a saúde do trabalhador, e que demandam mais tempo sejam assumidos por máquinas. Plataforma de serviços em nuvem: com o apoio de terminais 3D interativos e inteligentes e de um serviço em nuvem, a plataforma melhorará a eficiência de toda a cadeia de valor, realizando a utilização racional e efetiva dos recursos.

Tecnologia 3D e 4D: com o apoio de um sensor de movimento, uma imagem de um item de vestuário em 3D e 4D é projetada sobre a imagem de uma pessoa que se vê em uma tela que simula um espelho. Seus movimentos são captados e a imagem da roupa reproduz movimentos compatíveis em tempo real na peça vestida.

Interfaces Haptic: são interfaces que simulam sensações táteis. A interação entre as características e propriedades de cores e movimentos dos tecidos e roupas virtuais com as sensações organolépticas do usuário tornam mais segura a compra à distância.

Auto Body Scanning: desenvolvimento de sistemas e de plataformas de digitalização do próprio corpo feita pelo consumidor aumenta substancialmente a possibilidade de intervenção de designers autônomos para suporte na criação de modelos absolutamente únicos.

Wearable Technology ou tecnologias vestíveis: é uma forte tendência na era digital. Por meio de roupas e acessórios será possível detectar e monitorar funções corporais e produzir comunicação, transferir dados, controlar ambientes individuais, dentre outras possibilidades inexploradas pela indústria do vestuário.

Sustentabilidade: a escassez dos recursos naturais tem aumentado a pressão por um compromisso maior das empresas pelo uso de tecnologias que gerem menos poluição e gases de efeito estufa.

Fonte: Livro "A quarta Revolução Industrial do setor têxtil e de confecção: a visão de futuro para 2030", da Abit. Edição revisada 2017

Os desafios do Ceará para entrar de vez na Era Digital

Por Irna Cavalcante

Foto: AURÉLIO ALVES
Rafael Cabral, presidente do Sinditêxtil Ceará: sem investir em tecnologia não há sobrevivência (Foto: Aurélio Alves)

Sexto maior polo do Brasil em produção têxtil e de confecções e segundo no segmento de moda íntima, o Ceará tem na cadeia da moda um dos principais pilares da sua economia. O setor contribui com algo em torno de R$ 456 milhões por ano no Produto Interno Bruto do Estado e é responsável pela geração de mais de 13,2 mil empregos. Para os especialistas, tão importante quanto avançar em termos de modernização tecnológica, é tornar este processo cada vez mais inclusivo.

O presidente do Sindicato da Indústria de Fiação e Tecelagem em geral no Estado do Ceará (Sinditextil), Rafael Cabral, diz que o Estado sempre teve uma participação de mercado no muito intensa, embora a crise tenha provocado nos últimos anos um encolhimento do mercado. Há quase todos os elos da cadeia estabelecidos, da produção de algodão, à indústria de fio e tecidos, reciclagem de fios, confecção e varejo. E a busca constante pela modernização de equipamentos já é muito comum entre grandes empresas como Vicunha, a Santana, TBM, Jaguatêxtil, Multicolor e outras empresas centenárias, mas há muitas outras empresas menores, quase artesanais.

“E a indústria 4.0 é um processo de atualização de tudo que já vem sendo feito até agora para atender a uma demanda do consumidor, que cada vez mais quer participar do processo, quer um tecido diferente e se você não fizer investimento em tecnologia, seu produto não vai mais sobreviver no mercado”. Dentre as medidas que estão sendo articuladas está um plano conduzido pela Federação das Indústrias do Ceará (Fiec) para ser apresentado ao Governo do Estado para estabelecer políticas públicas para impulsionar o desenvolvimento do setor nos próximos anos. Além de mais investimentos em formação e capacitação dos profissionais para o setor.

Aumentar a produtividade que hoje ainda é abaixo da média brasileira; tornar o crédito mais acessível e fomentar uma maior aproximação das empresas dos centros de produção de inovação são outros desafios, elenca o presidente do Sindconfecções, Lélio Matias.

Ele diz que hoje Fortaleza tem hoje em torno de 5,3 mil indústrias de confecção formais. Dentre estas, 43 estão associadas ao sindicato. "Dentre nossas associadas, podemos dizer que umas doze estão navegando fácil nesta construção da indústria 4.0, investindo em estampas digitais, novas modelagens de risco e corte, mas precisamos trazer as demais".

Para ele, o novo perfil de cursos do Senai no Ceará - que inclui desde modelagem avançada e a primeira pós-graduação em jeans - e a planta-piloto industrial, um investimento de R$ 8 milhões, que entrará em operação no ano que vem, pode ajudar muitas empresas a dar grandes saltos de produtividade. "Sem dúvida, vamos conseguir avançar alguns degraus".

Raio-X da Indústria Têxtil no Ceará

Por Irna Cavalcante

R$ 453,6 milhões por ano de participação no PIB do Ceará
10º maior PIB dentre os setores industriais do Estado

0,4% de participação na economia. Há cinco anos, era de 0,8%

6º maior polo do setor no Brasil. Atrás de Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Santa Catarina e São Paulo

4% de participação no PIB setorial brasileiro

A INDÚSTRIA TÊXTIL responde por 2% da participação na indústria cearense.

A INSERÇÃO INTERNACIONAL das empresas é de 3,1% no setor cearense e 5,6% considerando o contexto brasileiro.

POR ANO, O SETOR CEARENSE exporta US$ 25,9 milhões. È o nono estado que mais exporta.

A CRISE IMPÔS duras perdas ao setor. Em 2017, a variação no PIB foi de 40,3%. Porém, a variação acumulada do Ceará em cinco anos aponta para um crescimento de 12,9%

A PRODUTIVIDADE é de R$ 37,4 mil anuais por trabalhador. Abaixo da média brasileira (R,8 mil por ano).

MAIS DE 72,8% dos empregos formais são gerados por grandes indústrias. Estas, porém, representam apenas 4,4% dos estabelecimentos do setor. A maioria (69,7%) está enquadrado como microempresas.

SALÁRIO MÉDIO no Ceará R$ 1.617. No Brasil, a média é de R$ 2 mil.

O TEMPO MÉDIO de estudos dos profissionais no Ceará é de 11,2 anos, acima dos 10,7 anos da média brasileira.

A MAIOR PARTE dos profissionais está empregada no setor de tecelagem (5,1 mil empregos), seguido da preparação e fiação de fibras têxteis; e fabricação de artefatos têxteis.

COMPOSIÇÃO DO SETOR: acabamentos em fios, tecidos e artefatos têxteis; fabricação de artefatos têxteis, exceto vestuário; fabricação de tecidos de malha; preparação e fiação de fibras têxteis; e tecelagem (exceto malhas).

Fonte: Observatório da Indústria (FIEC)

Estampas 3D e máquinas interligadas por sensores já trazem bons resultados

Por Irna Cavalcante

Na Jangadeiro Têxtil, fábrica cearense que produz mais de 450 toneladas de tecidos e malhas para grandes marcas do varejo como Renner, C&A, Pernambucanas e Cholet, a adaptação do parque fabril para indústria 4.0 caminha a passos largos. Este ano foram investidos mais de R$ 8 milhões em inovação. E dentre os destaques, está a implantação de tecnologia de ponta para produção de estampas digitais exclusivas.

De acordo com o gerente industrial da empresa, Leonardo do Vale, no Nordeste, só há mais uma empresa com a mesma tecnologia. E apesar do investimento ter sido alto, os ganhos já são significativos. As máquinas convencionais além de demandarem mais profissionais, equipamentos de segurança, demandam mais tempo, água e energia. “O setup digital dura segundos que é o tempo somente de troca de arquivos, enquanto que uma rotativa convencional, por mais moderna que seja, tem que trocar cilindros, pastas, tintas, que duram até 45 minutos. Além de ser ambientalmente mais correta”.

Foto: AURÉLIO ALVES
Leonardo Vale, gerente industrial da Jangadeiro Têxtil (Foto: Aurélio Alves)

No setor de tinturaria, algumas máquinas já conversam entre si para dosar a quantidade de químicos nos processos. Porém, o grande salto virá com a instalação de sensores e soluções na área de Internet das Coisas (IoT) capazes de cruzar todos os dados e atuar de forma mais preventiva, alertando sobre eventuais problemas. “A palavra-chave é a integração.A internet das coisas é um dos pilares da indústria 4.0. e que vai possibilitar uma melhor comunicação entre as máquinas, que passarão a dar soluções, como o ambiente interno da indústria e o ambiente externo”, reforça o gerente de Tecnologia, Freitas Neto.

Para a diretora de produtos, Ieda Baquit, diferente das outras revoluções industriais, a indústria 4.0 não terá exatamente uma “virada”, mas transformações constantes e cada vez mais rápidas para uma produção mais eficiente e mais sustentável. “A migração já está acontecendo. E acredito que a indústria têxtil que hoje tem muitos produtos que agridem o meio ambiente, caminha para aumentar a produção, agredindo cada vez menos”.

Consumo sustentável e consciente

Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), fala dos desafios e rumo da indústria têxtil brasileira diante do avanço tecnológico e da nova consciência de consumo da sociedade

Por Isabel Filgueiras

Foto: DIVULGAÇÃO
Fernando Pimentel é presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Foto: Divulgação)

A onda verde e a facilidade de colher informações na internet faz com que os consumidores se preocupem cada vez mais como o modo como os produtos foram feitos. Além do preço, as marcas passam por uma reformulação de propósito, sempre tentando passar uma mensagem mais humana e de sustentabilidade. Segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel, esse movimento, que é uma tendência, deixa o Brasil em uma posição favorável em relação a outros produtores têxteis pelo mundo. Ainda que ainda haja casos de exploração laboral de imigrantes, admite ele, o selo "made in Brazil" já começa a ser um indicador de produção responsável.Isso porque as leis brasileiras trabalhistas e de meio ambiente são mais fortes e evoluídas que dos concorrentes asiáticos. Em conversa com O POVO, Pimentel fala sobre as vantagens da produção brasileira e o peso do setor na economia.

O POVO: Que importância o setor têxtil tem hoje para o Brasil?

Fernando Pimentel: Vou dar alguns elementos muito relevantes. Nós temos um faturamento da ordem de R$ 165 bilhões por base, sem impostos incluídos, tomando por base o ano de 2017. Geramos 1,5 milhão de empregos indiretos unindo todas as unidades da federação e em todas as cidades. Nós estamos entre os cinco maiores pagadores de salários da indústria de transformação. Representamos em torno de 5% do PIB da indústria de transformação do Brasil. Estamos entre os cinco maiores produtores mundiais de têxteis e confeccionados. Temos uma participação de cerca de 3% da produção do mundo, enquanto a indústria manufatureira no Brasil como um todo tem entre 1,7% e 1,8%. Nós pagamos mais de R$ 20 bilhões por ano de salários e cerca de R$ 20 bilhões de recolhimento de impostos. Empregamos majoritariamente pessoas com ensino médio completo para cima. 75% da mão de obra é feminina, o que gera uma grande capacidade de absorção de pessoas para trabalhar nesse segmento que o tem como fonte de renda principal ou como complementação de renda. Somos o segundo maior gerador do primeiro emprego entre os setores industriais. Esses são números incontestáveis sobre a nossa importância.

OP: Como maioria no setor, que papéis as mulheres exercem? há uma proposta de salários igualitários?

Pimentel: Absolutamente relevante, fundamentalmente na área da costura. Tem uma agenda que está em curso no Brasil e no mundo, é uma agenda da sustentabilidade, igualdade de direitos, etc. Não é uma agenda resolvida em parte nenhuma do planeta, mas faz parte do nosso trabalho dentro dos objetivos do desenvolvimento sustentável. E dos sete pilares de ações mais relevantes dentro do setor, que são: capacidade de rastrear a fabricação dos produtos, produção com menor uso de insumos, ambiente de trabalho seguros e limpos, economia circular, a indústria 4.0, salários em evolução e dentro destes contextos essa visão da igualdade salarial, que é um processo. Inclusive, porque temos essa agenda por termos um contingente de mulheres enorme trabalhando no nosso setor.

OP: Quais as prioridades da Abit neste momento?

Pimentel: Estamos avançando na questão da manufatura avançada que é a questão da indústria 4.0. O Brasil tem uma diferença muita grande com relação aos países asiáticos que concorrem conosco. Temos um arcabouço institucional bastante amplo na área previdenciária, trabalhista e de rede de proteção social. Temos a questão da sustentabilidade da produção bem feita. Vira e mexe, ocorrem notícias de problemas com imigrantes que vêm trabalhar no Brasil e às vezes operam em condições não corretas, por parte daqueles que os estão utilizando na produção. É uma agenda que temos que estar diuturnamente trabalhando contra qualquer exploração. Brasil por ser uma democracia e grande estrutura de administração e controle de todas essas áreas é um país que está a frente no mundo. Problemas, nós temos. Negá-los seria negar a realidade. Temos uma agenda de trabalho nessa direção e participamos de todos esses fóruns fundamentais, inclusive reuniões na OIT (Organização Internacional do Trabalho), somos signatários do pacto anti trabalho escravo e forçado. Dentro dos sete pilares, cada um deles merece abordagem concomitantemente. Tem que avançar na tecnologia, não pode deixar para trás a sustentabilidade, na rastreabilidade do produto, tem que ter ambientes corretos e dignos sempre. Até porque podemos nos posicionar de uma maneira muito claro no mundo com esse avanço na sustentabilidade. Esses objetivos do desenvolvimento sustentável é crítico e fundamental para que o setor continue a crescer no Brasil e se destaque entre seus pares no mundo inteiro.

Na média, cada cidadão está gerando umas 700G DE LIXO todos os dias. Se não mudarmos para um CONSUMO MAIS CONSCIENTE, a perspectiva é que até 2050, nós cheguemos a 40% mais

OP: O que o País tem de diferencial no que confere à sustentabilidade?

Pimentel: Vamos falar rapidamente alguns exemplos. Temos questionando ou não, uma lista que indica onde há trabalho errado sendo praticado. Temos uma legislação trabalhista, uma legislação ambiental e social das mais amplas do mundo. Nossa matéria-prima, o algodão tem 86% da produção brasileira sustentável, com certificado. Do nosso algodão, só 4% dele têm algum tipo de irrigação, o restante é água da natureza, da chuva. As fibras sintéticas brasileiras são um exemplo de projeto de sustentabilidade tanto na fabricação, como no uso e no descarte. Temos um conjunto de ações nessa linha. Mais e mais, as empresas estão Enquanto tiver um problema, temos que tratar como fossem milhares. Essa visão, esse avanço da agenda da conscientização, da difusão das informações, prêmios de inovação, sustentabilidade. Empresas do nosso setor têm sido elencadas como locais ótimos para trabalhar nos rankings, em revistas que publicam esse tipo de análise. É uma indústria que tem grande capacidade de empregar e obviamente precisa ter bastante atenção com todos os seus elos de fabricação para que eles ajam dentro da conformidade exigida, necessária e no ambiente civilizado que todos queremos para o Brasil.

OP: Então, a onda de consumo consciente e sustentável beneficiam o Brasil?

Pimentel: O mundo gera mais de 2 bilhões de toneladas de resíduo por ano. É algo absurdo. A maior parte deles são orgânicos, quase 50%. Na média, cada cidadão está gerando umas 700g de lixo todos os dias. Se não mudarmos para um consumo mais consciente, a perspectiva é que até 2050, nós cheguemos a 40% mais. Estamos gastando o planeta numa proporção insustentável. Se olharmos o Brasil, apesar de termos muito a fazer ainda, Eu vejo que o consumo consciente é uma tendência irreversível, que pega muito a geração milênio e geração Z. Por outro lado, ainda existe uma capacidade muito reduzida no Brasil e no mundo, o que muitas vezes faz com que o consumidor não se atente para as melhores práticas de consumo. Mas, a nosso ver, essa não é uma moda passageira. É algo permanente se quisermos levar o mundo a ser um lugar mais próspero e digno para as próximas gerações.

OP: Qual o papel do Nordeste, que tem tradição têxtil, dentro da indústria nacional.

Pimentel: O Nordeste se olharmos todos os estados têm um papel relevante na nossa história e na atualidade. Ceará, Pernambuco, Paraíba têm a indústria têxtil na sua essência na sua história. Se pegarmos a concentração regional, BA tem 2,2%, Sergipe, 0,7%, Alagoas 0,2%, Paraíba 1,9%, Ceará 6,9%. Somando isso tudo, temos uns 15% da produção nacional concentrada na região nordeste. Ceará é o líder na região.

OP: O que ainda pode ser explorado na região?

Pimentel: Temos um desafio muito grande relacionado a logística. O Brasil é um país de logística ruim. Então eu diria que nós precisamos retomar o crescimento do nosso país para que o consumo volte em todas as regiões do nosso território e com isso possamos ter uma produção ocorrendo no Nordeste para atender o Sul-Sudeste, mas principalmente para atender os mercados da região. Ter uma boa infraestrutura, rodoviária, ferroviária, de cabotagem, faz muita diferença para localização das empresas, acessos a matérias-primas, estados que criem bons ambientes de negócios, isso tudo faz diferença. O grande desafio do nordeste está na retomada de crescimento e ao mesmo tempo trabalhar fortemente na infraestrutura de transporte brasileira.

OP: O quanto as exportações representam para o setor hoje?

Pimentel: Em torno de 4% do faturamento do setor é de exportação e 96% é para o mercado local. Temos um grande programa de internacionalização das empresas brasileiras junto com a Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), com metas arrojadas para ampliar a participação do nosso país no mercado mundial. Porém, é preciso que haja negociação de acordos internacionais, como estamos fazendo. A questão também passa pelo avanço da agenda de competitividade sistêmica do país. O setor é um exportador tradicional, mas a ampliação da nossa participação do mercado mundial depende não só das empresas, mas de uma agenda de competitividade.

OP: E quanto as importações representam?

Pimentel: As importações de tecidos, fios e malhas representam em torno de 30% de tudo que é produzido aqui dentro. No lado da confecção, que está no varejo, em torno de 15% é importado.

OP: Qual a expectativa para 2019 e o novo governo que está por vir?

Pimentel: Por enquanto o governo não apresentou com clareza sua agenda de trabalho, ainda está montando equipe. Mas existe um ânimo da classe empresarial neste momento. Uma pesquisa recente da qual participamos e tivemos acesso, 77% dos empresários estão otimistas ou muito otimistas após o segundo turno. 78% dos respondentes pretendem desenvolver pessoas e 48% querem contratar e 52% pretendem ampliar os investimentos. É uma visão otimista, mas entre a expectativa e a realidade, só teremos condições de falar com mais efetividade quando os planos ficarem mais delineados e pudermos ver a agenda.

OP: Como o setor encara as mensagens do novo governo de abertura para o mercado, menos protecionismo e política zero subsídios?

Pimentel: Já manifestamos que a indústria não é xenófobo. A indústria quer que abertura se dê, mas de uma forma organizada e planejada. Não é colocar sobre as costas do empreendedor brasileiro uma abertura unilateral radical sem mexer nos fatores de competitividade sistêmica (impostos, legislação), porque isso significa dizer que quer acabar com a indústria do país. E um país como o nosso não pode ficar sem indústria.

OP: Que novidades de inovação e tecnologia o setor têxtil brasileiro tem apresentado? O que tem a oferecer nesse sentido?

Pimentel: Temos vários projetos em andamento da indústria 4.0. Há plantas operando com projetos piloto, desenvolvendo novos materiais. O setor é tradicional, mas é intensivo em tecnologia, design, inovação e sustentabilidade em produtos e serviços.

Demanda por formação no setor têxtil cresce 35% no Ceará

Por Irna Cavalcante

A demanda por cursos profissionalizantes no setor têxtil e de confecções cresceu 35% no Senai do Ceará. Para o coordenador do Senai da Paraganba, Elias Pedrosa, explica que os dados refletem o próprio movimento de modernização das indústrias para ganhar competitividade e produtividade.

"A tecnologia está evoluindo cada vez mais rápido, o que exige das empresas um investimento maior e mais constante em maquinário.Hoje as máquinas tem 2,5 vezes a velocidade das versões anteriores, então quem já operava precisa precisa passar por reciclagem, há também uma demanda maior por profissionais que façam a manutenção destes novos equipamentos. E as empresas estão atentas a isso e investindo na capacitação dos seus profissionais".

O perfil de cursos também está mudando. Este ano, por exemplo, foi aberta a primeira turma de pós-graduação em jeans. Também tem crescido a demanda por cool hunter (caçadores de tendências) e modelagem avançada.

E o foco das empresas cearenses têm sido na qualificação não só dos colaboradores de base,mas também na alta gestão. O primeiro curso de Master In Business Innovation (MBI) em Indústria Avançada: Confecção 4.0, realizado pelo SENAI CETIQT, no Rio de Janeiro, reuniu 44 empresários e altos executivos de 32 empresas do setor têxtil e de confecção durante seis meses. Dentre estes, profissionais de empresas cearenses como DelRio e Vicunha.

Para 2019, a ideia é focar em projeto multiestados com objetivo de levar conhecimentos da Confecção 4.0. A Edição Nordeste 2019 do MBI em Indústria Avançada: Confecção 4.0 começará no dia 5 de abril, no Ceará; mas Paraíba, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Rio Grande do Norte também irão receber encontros presenciais do MBI.

Profissões que devem crescer na moda 4.0

Cientista de dados com foco em inteligência de mercado da moda: com a grande quantidade de redes sociais e de informações circulando, cresce a demanda por profissionais preparados para entender este grande número de informações e transformar em novas estratégias para os produtos.

Profissionais ligados à customização em massa: na indústria 4.0 a tendência é que aumente o nível de personalização de produtos, mas que ao mesmo tempo sejam produzidos de forma cada vez mais rápida pela indústria.

Profissionais na área de logística avançada: sobretudo, aqueles que desenvolvem soluções em rastreabilidade e monitoramento da produção.

Profissional de TI em diferentes áreas, com especialização no segmento têxtil: os processos tendem a ser cada vez mais automatizados, com mais sensores, robótica e uso de inteligência artificial. O que vai demandar profissionais aptos a operar as novas tecnologias.

Engenharia em materiais avançados: esta área exigirá alto conhecimento em nanotecnologia e novos materiais.

Designer: o aumento da demanda vem tanto ligado à questão de tecidos avançados como a própria gestão estratégica da moda.

Modelagem Avançada: profissionais aptos a operar as máquinas com tecnologia de ponta no setor têxtil.

Analista de corte e costura: é a função que hoje é exercida pelas costureiras, porém, com exigência de conhecimento mais amplo de processos e tecnologias.

Fonte: Observatório da Indústria, Abit, Senai

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