Fortaleza Revela

Conceito

O projeto dá protagonismo aos personagens do cotidiano da Capital, com a proposta de apresentar o perfilado a partir das suas ocupações na Cidade e do modo com que se relaciona com o bairro onde vive. São 119 bairros e muitas são as histórias de vida que atravessam Fortaleza todos os dias. 

Nossa busca é entender o "DNA" de quem habita a Capital a partir da relação direta com o espaço urbano. Nossa compreensão é de que nas entrelinhas das vidas do "cidadão comum" moram narrativas extraordinárias. 

O ambientalista do mangue

 

Há 25 anos, o pernambucano Rusty Sá Barreto, 57, desembarcou no Ceará em busca de sol. Os eventos de motociclismo que promovia em Maceió (AL) e João Pessoa (PB) eram prejudicados pelas constantes chuvas nos fins de semana e chegou-lhe aos ouvidos a informação de que Fortaleza dispunha de 350 dias de sol por ano. Qual canto da sereia, a sedução foi imediata.

Mas quando desembarcou na capital cearense, Rusty foi surpreendido e seus planos mudaram de rumo. Ao descobrir a Sabiaguaba, e o mangue, por consequência, Rusty decidiu se dedicar a uma missão que ele define como "ação cidadã em prol da preservação e da conscientização ambiental voltada à área do manguezal". Desde então, criou e mantém o Ecomuseu Natural do Mangue da Sabiaguaba, promove caminhadas e passeios de canoas educativos, trabalha no reflorestamento dos manguezais e no recolhimento dos lixos nos rios.

(Foto: Aurélio Alves/O POVO)
 

Mais recentemente, deu um jeito de unir suas duas grandes paixões: o motociclismo e a preservação ambiental. Criou o projeto Motociclista Ambiental, que estimula motociclistas a cuidar e preservar o meio-ambiente. "É mais uma estratégia de sensibilizar as pessoas para a importância da preservação, do cuidado com o uso e o descarte dos resíduos no mangue".

Circo, rap e molecagem

 

Abu Payaço defende que a arte fortalece a cidade diante das tantas violências enfrentadas diariamente. Para ele, o ruído provocado pelo riso nos aproxima mais enquanto seres coletivos. "Na rua, você cruza com diversas pessoas e aquilo atravessa muito o seu trabalho. Sempre é uma coisa aberta. Sempre vai aparecer um cachorro, um bêbado...", conta o palhaço rapper que faz das paradas de ônibus o seu palco.

(Foto: Aurélio Alves/O POVO)
 

Enquanto artista, Abu se coloca como "bufão", um clown mais "primitivo". "É um ser grotesco, político, que critica, que vomita, que mostra com o ser humano é, o bicho que a gente é", explica. Pela Capital afora, ele toca o projeto Cheiro do Queijo, misto de rap e molecagem. A obra está prestes a virar um disco, que vai ser lançado nas plataformas digitais em janeiro. "É show de zoada no seu juízo", garante.

(Foto: Aurélio Alves/O POVO)
 

Gorete entre o riso e o choro

 

Foi no Ceará que a piauiense Gorete Gomes do Nascimento, 53, encontrou um lugar para se aninhar. Com pés fincados em Fortaleza, ela entrou para o imaginário de um bairro de boemias e carnavais, o Benfica. É ali pertinho da Praça da Gentilândia, que ela se fez “rainha do guaraná” e já se vão 21 anos de histórias, amizades e muito barulho de liquidificador.

(Foto: Aurélio Alves/O POVO)
 

De riso fácil, Gorete investe na simpatia e no atendimento cuidadoso para cativar clientes e se manter de portas abertas. "Quando eu comecei não tinha isso de tanto açaí não", conta, narrando que viu muita gente "subir e descer" nesse "mercado das vitaminas". Pra além do bom atendimento, ela tem uma arma secreta: o "chorinho" que serve para o cliente, indo além das quantidades de vitamina limitadas pelo cardápio. "Eles (clientes) não abrem mão desse choro", se diverte. 

A voz rebelde e doce de Mumu

Foto: Mateus Dantas/ O POVO

O nome no registro é Phelipe Cruz, mas é pela alcunha de Mumu que o rapaz de 19 anos é mais conhecido na cena cearense. Artista múltiplo – “eu canto, atuo, toco, me expresso em diversas linguagens” –, há três anos Mumu caiu de encantos pelo ukulele, instrumento musical havaiano de cordas. “Descobri o ukulele quando eu procurava um instrumento para aprender a tocar, porque eu também componho e queria estender as composições para a música”, conta, revelando mais um talento.

A escolha do instrumento se deu pela facilidade do aprendizado, que Phelipe obteve sozinho assistindo a vídeos pela internet. Mas o que era comodidade transformou-se em paixão. “Sou louco pelo ukelele!”, assegura. “Com ele, consegui inclusive ‘domar’ minha voz, que era muito rebelde”, ri-se o moço, que começou a cantar aos 11 anos na igreja católica perto de sua casa, na Sabiaguaba, onde mora até hoje.

“Gosto muito deste contraste entre a tranquilidade da Sabiaguaba, onde o tempo parece não ter pressa, e a loucura do Centro de Fortaleza, onde eu desenvolvo minhas atividades”, afirma ele, um apaixonado pelo Theatro José de Alencar

 

A grandeza da Pikena

(Foto: Aurélio Alves/O POVO)
(Foto: Aurélio Alves/O POVO)

Não são poucos os que estranham o fato de Rafaela Araújo Dantas ser uma bem-sucedida jogadora de basquete. Do alto de seu 1 metro e 60 centímetros, ela destoa da média da estatura de jogadoras do esporte, que costuma ser 20 centímetros a mais. Porém, foi a prática desta modalidade que, desde os 11 anos de idade, garantiu seus estudos e até sua formação em Direito.

"Desde a 5ª série ganho bolsas de estudos para jogar basquete e foi assim até a faculdade”, conta Rafaela, mais conhecida nas quadras pelo apelido de Pikena. “É claro que a minha altura sempre foi, aparentemente, um problema. Mas a gente compensa com outras habilidades, como velocidade e posicionamento em quadra, por exemplo".  

 

As mágicas de Charles

(Foto: Julio Caesar/O POVO)

Taxista há 17 anos, Charles Augusto, 35, é também mágico. Na labuta diária, porém, ele tem de ser ainda homem bala, equilibrista e até palhaço. Com a precisão de quem faz nascer a ilusão da ponta dos dedos, o fortalezense corre pra dar conta da pressa dos seus passageiros, balancear a relação com os aplicativos de transporte e divertir os clientes na busca por fidelização.

Charles transforma seu carro também em boate (tem jogo de luz no banco traseiro) e faz as vezes ainda de bodega (com variedade de bombons e até remédio pra uma dorzinha de cabeça). No contato com os turistas que transporta, o taxista-mágico aprendeu a olhar a Capital com jeito de surpresa e elege o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura como um dos seus preferidos para espairecer do corre-corre.

As jornadas de Gomes Avilla

(Foto: Julio Caesar/O POVO)

"Eu me sinto uma reencarnação do futuro no presente". É com esse passeio virtual entre os tempos que o designer e artista visual Gomes Avilla, 22, apresenta-se. Sua figura não passa desapercebida. Com referências estéticas e de personalidade que vão do britânico David Bowie à russa Elke Maravilha, Gomes é um mistura de fashionista de primeira hora, webcelebridade e figura constante na cena cultural e social alencarina.

Morador da vila Manoel Sátiro, ele trabalha na assessoria de comunicação do Centro Cultural Bom Jardim. Também cria ilustrações e faz produção de moda e de eventos. Para o futuro, mira a ambição de se graduar em Comunicação Social. "Tenho muito interesse em me formar. Comecei a atuar no mercado antes da vida acadêmica até para saber se é realmente o que eu queria. Mas hoje não tenho dúvida, minha carreira está na Comunicação. Tanto em Jornalismo quanto em Publicidade", afirma.

(Foto: Julio Caesar/O POVO)

Fátima e os leões

(Foto: Aurélio Alves/O POVO)

Há 19 anos, Fátima Porto Silva trocou a Campina Grande natal por Fortaleza, em busca de dias melhores para si, o marido e o filho. Aqui, encantou-se por tudo. “Achei lindas as praias! Gostei das pessoas, do clima, da cidade. Não saí mais. É como se eu fosse daqui”, diz, com brilho nos olhos. Nestas quase duas décadas, fez do número 376 da rua General Bezerril, no Centro, seu lar. 

 

 

O endereço, assim, solto no mundo, talvez nem evoque lembrança. Mas quando se sabe que é lá que funciona o Lions Bar e Restaurante, a coisa muda de figura. Junto de Eufrásio, o marido, e David, o filho, Fátima é a dona do local, que mudou a cara da diversão no Centro de Fortaleza, reunindo as mais diversas tribos nos últimos anos. “Tudo é feito com muita harmonia. Eu adoro receber bem as pessoas. E me divirto, viu? Quem diria que nessa idade (67) eu fosse andar em baladas?”, ri-se.

(Foto: Aurélio Alves/O POVO)
 

Fátima e os leões do Centro

As jornadas de Gomes Avilla

As mágicas de Charles

Rafaela e os ensinamentos das quadras

Fortaleza Revela: A voz rebelde e doce de Mumu

Gorete entre risos e choros

O palhaço rapper que ama a rua

Rusty em defesa do mangue

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