Definido o rumo do crescimento

Planejamento geralmente rende bons frutos. É necessário organizar o que se quer para o futuro. Na dimensão de uma cidade grande, a importância aumenta. Fortaleza tem quase três milhões de habitantes e questões que inspiram cuidados para serem resolvidas. A atenção foi dada quando, em 2015, deu-se início ao Fortaleza 2040. Um plano para determinar o que se quer da Capital para os próximos anos.

O eixo central deste projeto é a redução das desigualdades sociais, chegando ao cerne da questão, a violência. Mais que combater, há definições para prevenir. É arquitetura e urbanismo, mobilidade, olhar para o social, meio ambiente, economia e todo o dinamismo que envolve uma metrópole.

Estende-se, portanto, à Região Metropolitana de Fortaleza, que envolve 18 municípios, além da própria Capital do Ceará. Ainda se pensou na dimensão global, em que as próximas gestões continuem o que foi iniciado há três anos. Isso porque os seis módulos do Fortaleza 2040 estão documentados e divididos para quatro anos cada um. Ou seja, as próximas gestões municipais terão a base do desenvolvimento da Cidade até 2040.

Mas as ações já iniciaram na Cidade. A mobilidade é a mais visível de todas. É com certeza uma das marcas. É a priorização do transporte público sobre o privado. Tornar a Cidade acessível a qualquer cidadão traz o sentimento de pertença. Conseguir chegar facilmente a qualquer ponto de Fortaleza, com integração entre os modais, faz os bairros, as pessoas se aproximarem. Pelo menos é um primeiro passo.

"Desculpe os transtornos, estamos em obra". Essa é a atmosfera das modificações sendo vistas na Capital. A reformulação da avenida Bezerra de Menezes passou por isso e foi concluída. Na avenida Aguanambi, a revitalização ainda está sendo realizada. A ideia é tornar fluido o transporte público que leva os trabalhadores lá da Messejana ao Centro.

Preservar a memória da Cidade, com restauração e dando norte ao seu patrimônio histórico também é outro eixo que o Fortaleza 2040 contempla. E não fica apenas no Centro. A participação de 10 mil pessoas para formatar o plano deu a percepção de que muitos equipamentos estavam inutilizados e abandonados. E em todos os bairros há marcos históricos.

Portanto, dar a ideia de que Fortaleza é uma casa pertencente ao cidadão passa por inúmeros detalhes. Um deles é o sentimento de poder encontrar tudo em um bairro só. Por isso a ideia de segmentar a Capital em quatro centros urbanos divididos em 21 subcentros. Nesse aspecto, a participação de todos e o investimento da iniciativa privada serão essenciais. O fato é que os impactos vão sendo sentidos. É difícil prever o futuro, mas é possível sim dar rumo a ele.

Redução das desigualdades e da violência

Com o desenvolvimento econômico da Cidade, garantias de acesso ao serviço básico de qualquer cidadão, aliado ao crescimento da oferta de emprego, são elementos que devem contribuir para o combate à violência na Capital

O objetivo do Fortaleza 2040 é tornar a Cidade igual para todos

É mais do que distribuir renda e alavancar o desenvolvimento econômico de uma cidade. O “Fortaleza 2040”, para os principais interlocutores do projeto, é uma medida de oferta dos serviços básicos de cidadania e de combate à violência.

O superintendente do Instituto de Planejamento de Fortaleza (Iplanfor), Eudoro Santana, explica que “o grande objetivo é diminuir a desigualdade social em Fortaleza” e, como consequência, fazer do instrumento um aliado e um mecanismo de redução da violência que assola as grandes capitais brasileiras.

A arquiteta e urbanista e coordenadora técnica do Plano Fortaleza 2040, Lia Parente, ressalta que a violência não decorre apenas da miséria. “É quando junta miséria e desigualdade”, explica. “O foco do Fortaleza 2040 é voltado para poder realizar ações estratégicas da redução da desigualdade para ter uma cidade mais justa. Se tivesse um projeto desse há 20 anos, Fortaleza não estaria como está hoje”, destaca.

Medidas emergenciais já começaram a ser implementadas. Até 2040, a intenção é colher os resultados dos esforços aplicados, e não de apenas executá-los, diz Eudoro Santana. “Toda a transformação que Fortaleza vem passando faz parte do projeto. Mesmo com todas as dificuldades, os resultados da construção de um projeto no médio e longo prazo, ao mesmo tempo em que ações emergenciais estão sendo feitas, têm sido positivos”, avalia o superintendente.

Lia explica, por exemplo, que as construções de novas praças e restaurações, além das vias, ruas, calçadas, ciclofaixas, do esforço de privilegiar o transporte coletivo, são ações que estão inclusas. A mobilidade urbana aparece como uma das principais marcas do Fortaleza 2040.

“Os corredores já estão previstos no Fortaleza 2040 para integrar os modais VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), metrô, BRT (Bus Rapid Transit). O projeto apresenta propostas para os corredores no sentido orbital de Fortaleza. Novos corredores com prioridade para os transportes coletivos. Há propostas para a implantação, no Centro de bondes elétricos modernos que o mundo inteiro está usando, que convive com carros, outros veículos, bicicletas, para nas paradas, nos sinais. É uma proposta. Isso está desenhado”, relata Eudoro.

 

Fortaleza 2040 - a estratégia para planejar e desenvolver

 

1_ Preparar a Capital para o futuro, com redução das desigualdades sociais. Esse foi o principal objetivo da criação do plano de cidade, identificado como Fortaleza 2040, entregue em dezembro de 2016. Nele, cerca de 10 mil pessoas, das comunidades e da academia, contribuíram durante três anos para a estruturação de um projeto dividido em oito volumes, com o planejamento pelos próximos anos. É a primeira vez na história que Fortaleza recebe um plano dessa natureza.

 

2_ O estudo técnico contempla a Capital nas mais diversas áreas, no curto, médio e longo prazo. Segundo a Prefeitura de Fortaleza, os eixos urbanístico, social, ambiental, econômico e de mobilidade foram planejados de forma integrada e pautados na visão complexa da Cidade e da Região Metropolitana.

 

3_ A elaboração do plano foi coordenada pelo Instituto de Planejamento de Fortaleza (Iplanfor), com execução técnica da Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura (FCPC/UFC) — por meio da contribuição de especialistas e consultores —, e a participação voluntária de cidadãos, com informações, críticas e proposições.

 

4_ O processo de construção do planejamento passou por três etapas. A primeira refletiu o “Fortaleza Hoje”, com objetivo de diagnosticar as principais deficiências de quem vive em terras alencarinas. Foram mais de 4 mil pessoas e 524 instituições representativas dos interesses dos bairros da Capital mobilizadas por meio das Secretarias Regionais, sob coordenação do Iplanfor.

 

5_ Na segunda etapa, “A Fortaleza que Queremos” para 2040 estruturou as metas para as próximas décadas com a intenção de construir uma cidade minimamente planejada para dar condições de cidadania com desenvolvimento econômico. Por fim, na terceira fase a “Visão de Futuro e Plano de Ação” promoveu Fóruns Temáticos, Setoriais e Territoriais, realizados em outubro e novembro de 2015, com a composição de grupos de trabalho.

 

6_ Para que o objetivo seja concretizado durante o período planejado, o Fortaleza 2040 foi estruturado em seis módulos de quatro anos, coincidindo com o cronograma das seis próximas gestões do Executivo Municipal: 2017-2020, 2021-2024, 2025-2028, 2029-2032, 2033-2036 e 2037-2040.

Distrito Criativo Iracema e o Centro

Dentro do Plano Fortaleza 2040, vislumbram-se distritos para a Cidade de acordo com a vocação de cada região. Centro e Praia de Iracema formam uma área para estímulo do empreendedorismo, inovação e inclusão social

Estátua Iracema Guardiã, um dos ícones da Capital

Um corredor de oportunidades, mesclando zonas de interesse, do Centro à Praia de Iracema. O Distrito Criativo Iracema, com lançamento previsto até junho, propõe a consolidação do empreendedorismo dessa área, com destaque para a inovação e a inclusão social.

"O Distrito da Saúde, que é chamado Viva @Porangubussu, foi lançado e já está todo formatado. O (Distrito Criativo) Iracema deverá ser validado pelo prefeito (Roberto Cláudio - PDT). É uma proposta que já foi discutida com vários segmentos da sociedade”, explica o superintendente do Instituto de Planejamento de Fortaleza (Iplanfor), Eudoro Santana.

A avenida Monsenhor Tabosa, o próprio Centro Cultural Dragão do Mar, bem como a Praça da Estação, estão dentro do desenho do Distrito.

“Já se falou muito em revitalizar a Praia de Iracema, já teve esse discurso, e aí há uma certa descrença da população que habita ali. Então, a estratégia antes mesmo de estabelecer o projeto e defini-lo , é fazer amplas discussões e, por outro lado, iniciar ações com objetivo de requalificação”, define Eudoro.

Dos caminhos de pedra pela avenida José Avelino revitalizada até a dinamização da região com a Quarta de Iracema, por exemplo, na qual é ofertada uma série de atividades de esporte, lazer e cultura. A programação da Quarta Cultural, de responsabilidade do Instituto Iracema, ocorre em pontos desde o Poço da Draga até o Aterro da Praia de Iracema. Para Eudoro, estas são formas de preparar a região para o Distrito Cultural Iracema, na região que movimenta uma população de mais de 15 mil habitantes.

São 2,9 quilômetros compostos de Zona Especial de Interesse Social  (Zeis), Zona Especial de Preservação do Patrimônio Histórico-Cultural (Zeph) e Zona Especial de Dinamização Urbanística e Socioeconômica (Zedus).

Somado ao plano do Distrito Criativo Iracema, o Iplanfor constrói um dossiê para a candidatura de Fortaleza como Cidade Criativa da Moda da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O primeiro workshop voltado para essa tarefa foi feito no Centro Cultural Belchior, com auxílio do designer, ilustrador e pintor Eduardo Barroso Neto.

O Observatório de Fortaleza, um braço do Fortaleza 2040, está à frente dessas atividades e também cuidará das ações do Distrito Criativo Iracema. Segundo Eudoro, a promessa é que o trabalho seja feito com rapidez e sem burocracia para despertar a confiança de quem vive e frequenta todo esse corredor da Cidade.

As várias questões urbanas, econômicas e culturais envolvendo a Praia de Iracema reforçam a necessidade de projetos para se pensar a região de forma criativa. O sociólogo Paulo Linhares, presidente do Instituto Dragão do Mar, defende a ideia de ali ser um distrito criativo há muito tempo, mas acredita que isso precisa ser concretizado a partir de decisões comuns entre Governo, Prefeitura, setor privado e movimento artístico.  “Tem que passar a agir então, planejamento urbano se faz com ações concretas de incentivo à moradia, incentivo à hotelaria, controle, o tipo de gestão de um espaço urbano diferenciado. Qualquer lugar do mundo e turístico tem um modelo de gestão diferenciado”, frisa.

Um polo ordenado de moda

A avenida Alberto Nepomuceno passou por revitalização

Fazer do limão uma limonada. Essa é a visão do prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, sobre a economia da moda de todo o Centro da Cidade, da José Avelino à Sé. Um desafio histórico para a gestão pública. Para isso, está em desenvolvimento a criação de um galpão, que funcione em parceria público-privada, voltada à formação de costureiros e de empreendedores desse setor.

“A gente chamar a universidade, chamar os Cucas e pegar esses jovens talentos e ser um polo. Dar cursos, também para os pequenos se formalizarem, fazerem startups, empresas de desenho”, planeja Roberto Cláudio. Há preocupação com educação e formalização, a partir de uma agenda mensal de eventos de moda, por exemplo.

O conceito foi narrado pelo prefeito, mas não há data oficial para a apresentação do projeto. Por enquanto, a expectativa é que esse galpão comece a ser formatado após a ordenação da José Avelino, em que parte dos feirantes já foi realocada para os boxes do Centro Fashion, observa o prefeito.

“Será trabalhar a moda nesse eixo do Centro da Cidade. Em vez de ser um problema, vai ser oportunidade. Encarar como uma força de economia criativa que tem o potencial de atrair mais renda, mais dinheiro formal, inclusive, mais empregos e mais inclusão de pessoas por essa economia”, frisa ele.

A marca da cultura

A preservação do patrimônio histórico como um esforço de recuperação da história da Cidade e um método integrador entre os seus moradores

Obra de revitalização do Teatro São José

Importante feito durante a criação do plano Fortaleza 2040 apontou que, pelo olhar da população fortalezense, os equipamentos culturais da Cidade estavam, além de inutilizados, abandonados. A partir desse entendimento, percebeu-se que em todos os bairros são identificados marcos históricos com significados simbólicos e cheios de memórias.

A preservação do patrimônio histórico, para o projeto, é um dos principais pilares do desenvolvimento da Capital. O arquiteto e urbanista Romeu Duarte destaca a inovação no jeito de preservar Fortaleza. “Não tem como enxergar a preservação do patrimônio se não olhar a sustentabilidade financeira, o negócio urbano”, ressalta.

Duarte aponta avanços nessa área no que diz respeito a equipamentos que aguardavam há anos uma resposta da instância municipal. “A casa do Barão de Camocim foi recuperada. Essa recuperação em curso do Teatro São José era uma coisa que estava atravessada na garganta, que há muito tempo não tinha definição de obra de restauro. A cidade ganha com isso”, afirma o arquiteto.

O superintendente do Instituto de Planejamento de Fortaleza (Iplanfor), Eudoro Santana, explica que esse movimento de restauração urbana e histórico que a Cidade vem passando é uma integração com os demais entes públicos.

“Não se pode implantar plano de longo prazo que objetive novo desenho da cidade, no caso de Fortaleza que tem sua governança, sem estar articulado com outros entes, comos governos do Estado e Federal, que no passado faziam intervenções sem aprovação. Essa área do patrimônio cultural vem sendo trabalhada nesse sentido e agora está na fase de agregar o planejamento, tanto na Secretaria de Cultura como na Prefeitura. Já temos equipamentos sendo recuperados”, diz, ressaltando a restauração do Teatro São José.

 

COMO VAI SER

Com a execução do plano Fortaleza 2040, pretende-se uma cidade de ambiência social com sinergias criativas, motivadoras da plena exploração de seus saberes, vocações e potencialidades, com ampla e criativa manifestação cultural da sociedade, baseada em uma cultura participativa que expressa múltiplas identidades, criatividade e diversidade cultural de uma Fortaleza que respeita e resgata a memória, conserva seu patrimônio material e imaterial e preserva seu espaço público, apoiada pelas instituições de governos e da iniciativa privada, contando com equipamentos, atividades e eventos culturais acessíveis ao conjunto de sua população.

Em busca de memória

A diretora do Observatório de Fortaleza e pesquisadora, Cláudia Leitão, lembra que “Fortaleza já destruiu muita coisa” e “já apagou muito da sua memória”. O caminho, segundo ela, é proteger o patrimônio edificado. “Não podemos construir uma cidade para um turismo cultural se nós não tivermos a possibilidade de fazer com que esse turista, esse cearense, fortalezense, ande pela rua e possa usufruir desse conhecimento, dessas memórias, dessas edificações que têm valor histórico e que foram tombadas pelo Iphan (Instituto do Patrimônio histórico e Artístico Nacional)”, defende.

O planejamento envolvendo patrimônio público, no entanto, não se limita a equipamentos históricos e já conhecidos do fortalezense. O plano fala em “uma política de patrimônio que leve em conta as rotas e os diálogos traçados pelos sujeitos que habitam os diversos territórios da Cidade, mudando a lógica que privilegia a materialidade sobre o simbólico, o valor arquitetônico em detrimento do afetivo” afirma.

O objetivo maior da preservação cultural na Cidade é se contrapor à lógica seletiva que reconhece como patrimônio histórico-cultural apenas objetos arquitetônicos associados às narrativas de determinados segmentos sociais e épocas históricos.

Para observar Fortaleza melhor

Cláudia Leitão assumiu o Observatório de Fortaleza, inaugurado em dezembro de 2017, para reforçar o trabalho do Iplanfor

Cláudia Leitão, diretora do Observatório de Governança Municipal do Iplanfor

Construir o novo desenho da Cidade, com maior inclusão social é a tarefa principal do plano Fortaleza 2040. Esse objetivo requer pesquisa, aliada à revitalização de ruas e locais turísticos, como entende a diretora do Observatório de Fortaleza, Cláudia Leitão. A pesquisadora faz um balanço dos três primeiros meses de funcionamento do novo equipamento voltado à difusão de informações e debate sobre a Capital.

O levantamento é de que cerca de três mil pessoas já visitaram o Observatório, localizado na rua Major Facundo, dentro da histórica Praça do Ferreira. Cláudia prevê a necessidade de abertura aos fins de semana e ainda fala sobre como o Centro da Cidade pulsa, a partir da efervescência cultural e comercial.  A busca por uma Fortaleza sem muros diz respeito à gestão e a todos os moradores.

O POVO - No âmbito do Observatório, como se deu a conexão dos estudos com o pensar do ordenamento urbano de Fortaleza?

Cláudia Leitão - O Fortaleza 2040 tem 33 planos dentro dele. Entre um deles existe o master plan que está aí pensando exatamente na reocupação da Cidade, analisando as zonas deprimidas, as mais vulneráveis, a concentração da população em determinadas zonas, os vazios que a Cidade tem. Nós estamos nesse momento construindo toda uma produção que vai ser fundamental para o plano diretor de Fortaleza. É o Fortaleza 2040 dizendo para o Plano Diretor o que é importante para a Cidade, o seu futuro, que envolve as questões urbanas, mas envolve também as questões que dizem respeito às crianças, às mulheres, às minorias, aos moradores de rua, às concentrações econômicas, à questão da violência, a essa população “nem nem nem”, que nem trabalha, nem estuda e nem está procurando trabalho.

OP - Quais as atribuições do Observatório ainda precisam ser fortalecidas?

CL - O Observatório tem uma vida curtíssima. Ele mal começou a funcionar, nós já tivemos uma abertura da nossa programação, das tardes do Observatório. Lançamos lá um livro importantíssimo, recentemente, em homenagem ao mês da mulher, chamado “O golpe na perspectiva de gênero”. Nós reunimos um debate de mulheres importantes da Cidade, onde nós tivemos ali toda uma discussão sobre as políticas públicas para as mulheres. Nós vamos fazer um grande seminário para discutirmos Fortaleza a partir dos distritos, e vamos fazer um grande seminário em maio sobre Fortaleza rumo à cidade criativa, que vai implantar o seu primeiro distrito de economia criativa, dos setores da moda, da gastronomia, do design, dos outros setores da criatividade, das artes. Nós vamos reunir, em breve, também os observatórios do Brasil voltados à questão da economia criativa em Fortaleza, tudo isso capitaneado pelo Observatório. Nós estamos fechando planos de ação com parceria, com todas as universidades.

OP - Como a senhora enxerga essa revitalização do Centro? Acredita que as pessoas vão voltar a frequentar mesmo nos horários em que o comércio fecha, para lazer?

CL - Olha, eu discordo inteiramente de qualquer visão que diga que o Centro está morto, que o Centro precisa ser revitalizado. O Centro está vivíssimo. Não há lugar mais rico do que o Centro da Cidade. Nós temos uma diversidade interessante, de população, de crianças, de velhos, de adultos, de gente que trabalha no Centro, de pessoas de níveis culturais, sociais diferentes, econômicos também. O Observatório tem sido muito visitado. É impressionante como em três meses nós temos mais de três mil visitantes. Então, eu acho que é uma performance bastante boa o que o Observatório tem conseguido aí, e imagino que isso vai aumentar muito, porque nós vamos começar a ter muitas atividades todas as semanas, e aos poucos ele vai sendo conhecido, reconhecido como equipamento também turístico. Porque o turista vai poder ver Fortaleza lá, vai conhecer a Cidade lá. Preparamos uma equipe de pessoas que estão nos ajudando, fazendo pesquisa, inclusive de satisfação daqueles que nos visitam. Vamos reconhecendo quem é o público que está indo nos visitar, e é muito surpreendente, o Observatório tem sido muito bem acolhido pela Cidade.

OP - O Centro também é abrigo para muitas pessoas em situação de rua, é um local de desordenado comércio informal. O Fortaleza 2040 traz solução?

CL - Bom, existe toda uma série de planos que dizem respeito a essa transversalidade das ações sociais, que envolvem a Prefeitura (de Fortaleza) e esses indivíduos que são frágeis, que não têm casa, que têm adicção em droga, foram, alguns, abandonados por suas famílias, outros que tiveram derrotas profissionais e que passaram a viver na rua. Essa presença é preocupante. A Praça do Ferreira tem mais de 200 pessoas morando na rua à noite e nós temos que encontrar soluções também criativas para pensar como é que poderemos apoiar pessoas que não têm onde morar, uns gostariam de ter moradia, outros não querem ter moradia, querem morar na rua. Então, é toda uma delicadeza que a Prefeitura precisa e tem que ter para tratar as pessoas com as suas histórias e com as suas trajetórias.

OP - Quais as soluções possíveis para melhorar a Cidade, por meio da Arquitetura e Urbanismo?

CL - Nós não podemos ter uma cidade que funciona bem na Aldeota, no Meireles, no Papicu, na Varjota, ou razoavelmente no Centro e no resto da Cidade não tenha as mesmas condições. Então, é preciso aproximar o leste do oeste. O plano (Fortaleza 2040), o master plan do arquiteto Fausto Nilo, é um trabalho brilhante, porque mostra e demonstra a necessidade de se ter uma mobilidade de bairros e de criação de sinergias. É para a vida econômica, para trabalho, para que as pessoas não necessariamente tenham que se deslocar para longas distâncias para trabalhar. Elas devem trabalhar mais perto de onde moram. É criar novas sinergias, por isso a ideia dos distritos.

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