No rastro dos sumidos

Por Fátima Sudário

As informações começaram a chegar aos repórteres do Núcleo de Jornalismo Investigativo do O POVO em 2017. Davam conta de corpos descartados no canal da favela Babilônia, no Jagurussu. Eram pessoas que sumiam das comunidades onde viviam. Nada disso foi registrado em boletins de ocorrência. O jornalista Demitri Túlio foi, então, seguir esse rastro e, neste especial, conta as histórias possíveis.

Com o fim da "pacificação", em 2015, entre facções que comandam o tráfico de drogas no Ceará, Fortaleza passou a experimentar o fenômeno do desaparecimento de pessoas nas periferias da capital cearense. Vítimas da tirania das organizações criminosas, cidadãos e os próprios criminosos passaram a ser alvos por motivação de vingança ou imposição do terror nas áreas onde o Estado é menos.

O desaparecimento em decorrência da violência das facções, geralmente, não é enredo de boletins de ocorrências, inquéritos policiais, denúncias do Ministério Público nem de processos na Justiça cearense. Daí a dificuldade para sistematização de casos, dados e acompanhamentos.

Nos dois primeiros dias da série de reportagem, O POVO conta a história de casos mapeados pelo repórter nos territórios de Caucaia e do Grande Jangurussu. Em Caucaia, município da Região Metropolitana de Fortaleza, a delação de uma adolescente sobre o desaparecimento de uma amiga – também adolescente – deu na descoberta de pelo menos 26 assassinatos e de quatro pessoas que, executadas, não tinham o paradeiro conhecido pela família nem pela polícia.

No Grande Jangurussu, a suspeita de sete pessoas "desaparecidas" nas mãos de uma facção e que seus corpos teriam sido ocultados no canal da Babilônia.

Na terceira matéria, O POVO sai do contexto das facções e mergulha no desparecimento do frentista João Paulo há quase três anos. Esse teve boletim de ocorrência. O rapaz de 20 anos, segundo o Ministério Público, sumiu após ser preso por policiais militares a mando de um empresário do ramo de postos de combustíveis. Outra modalidade da violência que faz desaparecer.

Uma cartografia do medo

Por Gil Dicelli

A estética busca traduzir a cartografia da violência que some com pessoas na periferia de Fortaleza, vítimas da brutalidade que lhes avizinha. As representações dos corpos são preenchidas por mapas imaginários, ruas e vidas sem saída, palavras e números que delimitam uma dura realidade.

O design da página esquadrinha esse cenário de caos, os elementos ultrapassam os limites da ilustração e modificam o desenho do espaço editorial, as colunas de textos são afetadas; e as cores, duras e tristes, divisam conteúdos.

O território do medo, que muitos teimam em não ver, já não está mais circunscrito à periferia. Os indícios se espalham pelos asfaltos e calçamentos, por todos os bairros.A cegueira não tem mais lugar. O lugar é abrir bem os olhos. Para onde vamos?

Gil Dicelli é editor-executivo do Núcleo de Imagem

13/6

TERRITÓRIO CAUCAIA

14/6

TERRITÓRIO JANGURUSSU

15/6

ONDE ESTÁ JOÃO PAULO?